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Situação dos mercados financeiros

No último dia 23 de junho, na primeira sessão das XXVIII Jornadas Internacionais celebradas em Palma de Mallorca pela MAPFRE GLOBAL RISKS, José Luis Jiménez, Diretor-Geral de Investimentos da MAPFRE, fez uma interessante análise da situação atual dos mercados financeiros. Durante sua palestra ele expôs claramente as chaves de um complicado contexto. Nosso especialista ressaltou que enfrentamos um momento de avanço tecnológico, científico e humano sem precedentes.

 

Segundo o último relatório sobre perspectivas econômicas elaborado pelo Banco Mundial, a situação global é francamente complicada. Depois da grande crise provocada pela pandemia da Covid-19, com um confinamento estrito primeiro e importantes limitações de movimento depois, a Europa sofre o revés da invasão da Ucrânia pela Rússia, que estende a perturbação nas cadeias de suprimento e acentua a desaceleração econômica. “Tivemos uma interrupção geral da atividade em todo o mundo e, quando começamos a nos recuperar, outra guerra chega à Europa e coloca-nos novamente na estaca zero”, disse José Luis Jiménez, Diretor-Geral de Investimentos da MAPFRE, no início da apresentação inaugural nas Jornadas Internacionais Global Risks da MAPFRE. A esse ponto devemos adicionar um agravante: desta vez é uma tendência global. “Está acontecendo em países desenvolvidos e em países emergentes”, sublinhou.

Um termo que serve para descrever esta situação, cunhado no âmbito econômico nos anos 60, é a estagflação. Foi um conservador britânico, ministro da Economia, que no Parlamento usou a palavra pela primeira vez, ao afirmar que o mundo enfrentava o pior de duas situações: por um lado, uma grande inflação e, por outro, um baixo crescimento (estagnação).

 

Situação inesperada e sem precedentes

Há poucos anos todas as previsões apontavam para taxas de juros muito baixas, inclusive negativas, durante décadas, e não havia previsão de inflação. “A globalização nos trouxe um ambiente muito confortável e, no entanto, o que aconteceu mudou tudo”, disse José Luis Jiménez. Fazendo uma média de todas as previsões publicadas depois da pandemia, antecipa-se um crescimento econômico global muito lento e uma subida abrupta dos preços. “O fato de não podermos acessar o petróleo, o gás ou qualquer outra matéria-prima a custos competitivos está gerando esta inflação. Há prognósticos de que, ao final deste ano ou princípios do ano seguinte, esta tensão financeira se atenuará. Porém, à medida que passa o tempo vemos que talvez não seja tão rápido quanto previsto”, afirmou.

Esta difícil situação repercute tanto nos mercados financeiros quanto no papel das seguradoras. “Estamos vendo como muitos dos ativos que temos nos balanços estão sofrendo de maneira pontual. O que está indo bem? As matérias-primas. A renda variável na América Latina e também o investimento em infraestruturas. Por quê? Porque normalmente os preços dos serviços estão vinculados de alguma maneira à inflação”, expôs o Diretor-Geral de Investimentos da companhia, que também advertiu que, no próximo ano, subirão consideravelmente as taxas de juros, o que freará o crédito das empresas e suporá um golpe para as famílias. “O trabalho dos bancos centrais consistirá em procurar o equilíbrio, freando a inflação sem atingir uma quota de taxas de juro muito elevada”, acrescentou, reforçando os marcos macroeconômicos e reduzindo as vulnerabilidades.

 

Aprendendo com as crises precedentes

Em 2012, a Zona do Euro enfrentou uma importante crise interna, que terminou com a intervenção do Banco Central Europeu. Tal e como sucedeu então, a alta dos prêmios de risco que experimentam hoje países como Espanha e Itália é um aviso dos mercados. “Precisamos de um mecanismo de ajuste para que os países do Sul não tenham um encarecimento do financiamento”, explica.

Esta situação leva a economia globalizada a evoluir para uma economia por regiões, um desenvolvimento prático e efetivo que, no entanto, pode ser prejudicial a médio e longo prazos. Este é, no entanto, o cenário que enfrentamos. “Vamos ter muitas restrições de oferta, e isso vai continuar. Vai haver estresse financeiro? Sem dúvida. O baixo crescimento econômico, como dizia ao princípio, vai levar a um período de estagflação”, admitiu o especialista que, diante da crise, considera que as tensões estruturais não cessarão. A Diretoria de Investimentos da MAPFRE defende um progressivo envolvimento dos bancos centrais. “Vão intervir, mas talvez não todos com a rapidez e a necessidade suficientes. Vamos falar de contração econômica, de crescimento do desemprego, de incrementos de mora, de possíveis quebras e inclusive de verdadeira inquietação social”, admitia.

Sem ceder ao pessimismo, Jiménez assegura que nesse contexto é necessário ser prudente e descontar que o crescimento dos preços será moderado, mas não ter uma visão de curto prazo dos mercados financeiros. Para exemplificar a perspectiva que permite calibrar este momento, observou que houve uma época “muito similar, com guerras, pandemias, fortes imigrações e muita instabilidade política”: o Renascimento, uma era em que a humanidade passou da escuridão medieval à ebulição das artes e das ciências. “O aprendizado é que esse termo foi criado 400 anos depois. Antes, essa parte da história não tinha nome, e de alguma maneira passou despercebida. Hoje em dia estamos em uma situação similar. Somos uma geração que vê como avança a tecnologia em tempo real”, afirmou. A pergunta que acrescentou é se seremos capazes de colocar esse avanço tecnológico, médico, cientista e humano em seu contexto. No meio desta tormenta, com tanta crise, inflação e altas taxas de juros, não é simples perceber que vivemos um novo Renascimento. Hoje há muitos mais cientistas no mundo trabalhando do que nos últimos 20 séculos. Todo isso nos levará, sem dúvida, a uma situação melhor”, concluiu.

 

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