Com a proximidade do Dia da Mulher, queremos parar um momento para refletir sobre a presença das mulheres nas empresas, portanto, não deixa de ser um tema de grande relevância na atualidade. Olhar rapidamente para o passado deve nos servir para valorizar todas as mudanças que conseguimos. No entanto, uma análise rápida do presente nos alerta de que ainda há muitos desafios e muito trabalho a ser feito.
Neste artigo, quisemos perguntar às mulheres da MAPFRE Global Risks sobre sua realidade: Quais são os desafios que, ainda hoje, permeiam nos ambientes de trabalho? Os avanços que alcançamos são reais? E é isso, a presença feminina no setor empresarial não é apenas uma questão de justiça e igualdade, mas também uma necessidade empresarial. A inclusão de mulheres em cargos de liderança e nos conselhos de administração não é somente legítima, mas também, pode melhorar a tomada de decisões, incentivar a inovação e aumentar a rentabilidade das empresas.
Diversos estudos confirmam essa realidade, como o relatório Diversity Wins: How Inclusion Matters, elaborado pela McKinsey, que destaca que “as empresas com maior diversidade de gênero em suas equipes executivas têm 25% mais probabilidade de ter uma rentabilidade superior à média”. Além disso, o estudo revela que quanto maior a representação, maior a probabilidade de obter um rendimento superior. “As empresas com mais de 30% de mulheres executivas têm maior probabilidade de superar as empresas onde esta porcentagem oscila entre 10 e 30”. Portanto, contar com uma variedade de perspectivas femininas e masculinas pode otimizar a tomada de decisões e estimular a inovação.
No setor dos seguros, há boas notícias neste sentido. Cristina Peral, Subdiretora de Subscrição da Área de Danos, com mais de dez anos no setor, comenta: “Segundo a INESE, há 30 anos a presença da mulher nesse setor era de apenas 4%, e muito poucas ocupavam cargos de direção. Hoje, as mulheres representam 57% da força de trabalho na indústria de seguros. A evolução foi muito grande, mas ainda há muito caminho a percorrer”.
Nesta linha, Yusimi Sarabaza, Subscritora Sênior da Área de Aviação e Transportes complementa: “Sim, acho que aumentou a presença de mulheres no setor de seguros, mas ainda falta alcançar paridade entre mulheres e homens. Considero que, à medida que o setor aumentar as possibilidades de compatibilizar a vida pessoal, familiar e profissional, aumentará o número de mulheres incorporadas ao setor de seguros”.
Um estudo realizado pela Universidade Autônoma de Nuevo León apoia a hipótese de Yusimi assegurando que, apesar da melhoria, as mulheres continuam mantendo as maiores responsabilidades no lar, assumindo majoritariamente o cuidado de familiares e da casa. Essa “dupla jornada de trabalho” dificulta que a mulher conte com tempo suficiente para poder desenvolver sua carreira profissional e vida pessoal.
Em muitos lugares, esse desequilíbrio não é nada mais do que uma resposta natural aos sistemas educativos reducionistas sob os quais se sustentam os sistemas sociais. Segundo dados da Fundación Vicente Ferrer, aproximadamente 42 milhões de meninas em idade escolar não frequentam a escola. Nem todas essas barreiras são exclusivamente legais, mas, em muitos países, existem leis e políticas restritivas que impedem que as meninas tenham acesso à educação ou que só lhes permitem estudar de forma limitada e reduzida. Yusimi enfatizou esta questão: “A sociedade continua a impor papéis de gênero e vemos que estas desigualdades afetam, em geral, negativamente as mulheres, por isso, não estamos em igualdade de oportunidades para poder participar no acesso ao emprego, à vida pública e inclusive para tomar decisões no âmbito familiar. Acredito que é a cultura da sociedade, e não a biologia, que diferencia as oportunidades entre homens e mulheres”.
A MAPFRE está há muito tempo comprometida com a igualdade de homens e mulheres no ambiente de trabalho. Em 2023, assinou seu IV Plano de Igualdade, que permanecerá em vigor até 2027. Esse plano inclui um amplo conjunto de medidas voltadas para acesso à formação, equidade salarial e conciliação entre vida profissional e pessoal. Atualmente, 42% dos cargos de responsabilidade na MAPFRE estão ocupados por mulheres e elas representam 55,4% de todo o quadro de funcionários. A transparência sobre as políticas de igualdade de gênero adotadas por uma companhia se tornou um fator cada vez mais relevante para as mulheres ao considerar uma mudança de emprego. É o caso de Celia Luz Correa, Gerente de Subscrição de Programas Internacionais e Responsabilidade Civil da MAPFRE Brasil. “Observo que, na MAPFRE, a situação globalmente é diferente, e as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço em cargos de liderança”. E também compartilha uma experiência pessoal que viveu há algum tempo: “Rejeitei, uma vez, uma proposta de trabalho porque observei que não tinha muitas mulheres em cargos de liderança. Acho que conhecer estes dados é imprescindível para avaliar uma proposta de trabalho”.
Também destacou Laura Marfil, Chefe de Rede e Documentação da Área de Operações, a importância desse tema e acrescentou que gostaria que a igualdade de gênero se tornasse uma norma tão natural e enraizada que não fosse mais necessário destacá-la ou lutar por ela no ambiente de trabalho: “Uma empresa sensível a esse tema transmite valores sólidos com os quais eu, pessoalmente, me identifico. A igualdade de gênero no ambiente de trabalho é um tema crucial e não se trata apenas de cumprir KPIs, mas de garantir que as oportunidades sejam verdadeiramente equitativas. O objetivo é chegar a um ponto em que a igualdade seja tão natural que não precisemos destacá-la em dias específicos.” E Yusimi aponta: “Para as empresas, deve ser um objetivo atrair, mobilizar e incentivar o desenvolvimento profissional das mulheres, aproveitando sua capacidade e talento”. Esse posicionamento reforça a necessidade de maior inclusão feminina nos órgãos de direção.
O desafio, no entanto, não é apenas local. A transição para a igualdade de gênero no ambiente corporativo é um desafio global, com impactos diferentes ao redor do mundo. Embora tenham sido alcançados avanços significativos em muitas partes do mundo, o caminho para uma verdadeira igualdade de oportunidades e representação continua sendo um objetivo em evolução.
Nos países da Europa Ocidental e América do Norte, as políticas de igualdade de gênero avançaram consideravelmente. Empresas dessas regiões costumam implementar programas de diversidade e inclusão, e há marcos legais que promovem a igualdade de oportunidades. Isso não significa que a discriminação tenha sido eliminada, mas demonstra que existe um compromisso real e uma vontade generalizada de avançar e progredir.
Já em muitas regiões da Ásia, África e América Latina, as mulheres ainda enfrentam desafios adicionais, devido a normas culturais e sociais profundamente enraizadas, além da falta de legislação adequada e de uma conscientização social sobre o tema.
Aproveitando que as profissionais da MAPFRE atuam em nível internacional, buscamos saber quais experiências poderiam destacar sobre essa desigualdade global. Laura Marfil compartilha sua percepção: “A influência cultural ainda tem um peso muito grande dependendo da região com a qual você lida. A maioria das empresas localizadas em outros países tem uma grande presença feminina, embora, se você observar, possa perceber certos padrões. Por exemplo, no continente africano, a mulher está desempenhando funções de assistente ou cargos administrativos, ainda não vi nenhuma mulher em cargos de destaque nas empresas desse continente. No Oriente Médio, a presença da mulher é escassa. Lembro-me da minha primeira reunião com uma empresa na Arábia Saudita. Perguntaram-me se eu não seria acompanhada por mais alguém, fazendo referência ao fato de que não havia nenhum homem comigo.”
Cristina Peral compartilha sua opinião neste sentido: “Não podemos dizer que a liderança feminina seja melhor do que a masculina, mas, se ambas estiverem equilibradas, os resultados obtidos são muito melhores para as empresas: maior rentabilidade e produtividade, maior capacidade de retenção de talentos e estímulo à criatividade e inovação.” E continua com uma reflexão: “Acho que as mulheres podem contribuir com um estilo diferente de liderança. Um estilo baseado mais na escuta ativa, na cooperação, orientação às pessoas e trabalho em equipe. Em geral, somos mais tolerantes à mudança e ao tratamento das incertezas. E tudo isso nos leva a conseguir altos níveis de motivação nas equipes”.
A igualdade de gênero no âmbito empresarial não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia essencial para o crescimento e a sustentabilidade das organizações. Apesar dos avanços significativos em muitas regiões, as mulheres continuam enfrentando barreiras que limitam seu pleno desenvolvimento profissional. Somente através de um compromisso global e ações concretas poderemos avançar em direção a um futuro onde a igualdade de gênero seja uma realidade completamente assumida. Embora estejamos no caminho certo, ainda há muito a percorrer nesta adaptação social e empresarial, e as mulheres têm um papel fundamental nas palavras de Cristina Peral: “Nós, mulheres, devemos ser as primeiras impulsionadoras da mudança. Trabalhar a autoconfiança, a visibilidade, superar a síndrome da impostora, estabelecer metas e, mais do que apenas sonhar em alcançá-las, acreditar que podemos conquistá-las. Tudo isso precisa estar presente no nosso dia a dia.”
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