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A Inteligência Artificial na gestão de riscos

A IA foi um tema transversal na XXIX edição das Jornadas Internacionais Global Risks da MAPFRE, realizada no último mês de junho. Foi o eixo central de uma das palestras de mais destaque do evento, abordando seu impacto na gestão de riscos globais.

Tendo como moderadores Diego Bodas, responsável por IA na MAPFRE, que falou sobre esta tecnologia disruptiva, Pablo García Mexía, diretor da cadeira de Direito Digital, da Herbert Smith Freehills, Richard Benjamins, CEO da OdiseIA e Juan María Aramburu, cofundador e CEO da Keepler Data Tech.

A Inteligência Artificial é muito mais do que uma tecnologia emergente ou uma moda passageira. Trata-se de uma mudança de paradigma, impulsionada pela capacidade atual de processar grandes volumes de dados. Aramburu ressaltou, durante sua participação no debate, que “agora é a hora de explorar todo esse trabalho desenvolvido nas últimas décadas”, enfatizando como a IA está melhorando a eficiência operacional dos negócios.

Na sua vez, García Mexía destacou a grandeza do seu impacto ao citar um estudo do European Internet Institute que afirma que “a Inteligência Artificial é o maior fator de ruptura na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”. Além da transformação de setores e negócios, ela está influenciando profundamente nossa sociedade, trazendo desafios existenciais que devem ser abordados.

O impacto de aplicativos como o ChatGPT democratizou o acesso à IA, “tirando-a das corporações e levando-a aos cidadãos”, compartilhou Richard Benjamins, que destacou a importância da ética no seu uso. “A tecnologia em si não faz nada; são sempre as pessoas e as organizações por trás que decidem o impacto.” Embora tenha descartado que a IA seja uma ameaça à existência humana, ela ainda envolve riscos que devem ser gerenciados com responsabilidade.

Impacto na gestão de riscos globais

Dentre todas as suas aplicações, a Inteligência Artificial está transformando a gestão de riscos globais, fornecendo ferramentas avançadas para prevenção, resposta e recuperação de desastres. Prever desastres naturais com precisão continua a ser um desafio devido à falta de dados frequentes. Mas “a IA pode otimizar significativamente a resposta e a recuperação após esses eventos”, interveio Richard Benjamins.

Por exemplo, dados de dispositivos conectados a antenas em uma rede de telecomunicações podem fornecer informações valiosas sobre os movimentos da população durante um desastre, permitindo uma resposta mais eficaz.

Em um contexto dinâmico e muito desafiador, a IA se apresenta como uma alavanca fundamental para enfrentar novas dificuldades. Juan Maria Aramburu ilustrou sua aplicação no setor energético. “Estamos ajudando uma grande petroleira a sensorizar suas refinarias e gerar gêmeos digitais”, explicou. Esses gêmeos digitais permitem prever possíveis riscos na produção e otimizar processos, influenciando o lucro da empresa. Além disso, a visão de máquina é usada para verificar se os trabalhadores estão usando o equipamento de proteção certo, melhorando, assim, a segurança no trabalho. Compartilhar essas informações com as seguradoras pode permitir a criação de produtos mais personalizados.

A robustez dos dados

A tecnologia avançada não é mágica, mas um processo científico baseado em dados de qualidade. Essa afirmação enfatiza a importância de entender que a IA, especialmente a generativa, é baseada em um banco de dados sólido e em processos meticulosamente projetados. Na Telefónica, de acordo com Richard Benjamins, a chave tem sido considerar os dados como um ativo estratégico, gerenciando-os adequadamente para maximizar seu valor.

Benjamins explicou que “a IA generativa é treinada com muitos dados, especialmente de textos retirados da internet, ajustando seus pesos no aprendizado de máquina para prever palavras”. Isso permite que modelos como o ChatGPT possam gerar conteúdo consistente, mas também envolve o risco de “alucinações”, onde a IA produz respostas incorretas devido a variações nos pesos do modelo. Ao contrário de um navegador, o ChatGPT não recupera informações existentes, mas as prevê com base em padrões estatísticos aprendidos.

No contexto da gestão de riscos globais, a IA generativa pode revolucionar a forma como as organizações processam e usam informações. No entanto, para aproveitar todo o seu potencial, é crucial integrá-la de forma flexível. “Inserir um modelo de IA sem modificar o processo de negócios pode ser ineficiente”, alertou Bodas. Portanto, é essencial que as organizações estejam dispostas a desafiar e modificar seus métodos tradicionais de trabalho para se adaptarem às capacidades da IA.

É fundamental tomar decisões explícitas, analisando vantagens e desvantagens, para acelerar a transformação e gerar valor a partir da IA em um tempo razoável. “Você pode fazer uma transformação para criar valor de tecnologia em cinco anos em vez de quinze”, sugeriu Benjamins, enfatizando a necessidade de planejamento estratégico para aproveitar totalmente as capacidades da IA generativa na gestão de riscos globais. “Não é apenas tecnologia, é negócio, operações e cultura”, acrescentou.

Regulamentação

A regulamentação da IA enfrenta o desafio da coordenação global. À medida que a Europa avança com uma regulamentação vinculativa e detalhada, nos EUA cada estado implementa suas próprias regras, gerando um mosaico legislativo. Pablo García Mexía enfatizou a necessidade de regulamentações claras que abordem tanto os riscos tecnológicos quanto os éticos, protejam os direitos individuais e garantam a transparência no uso dos dados.

Richard Benjamins expôs a perspectiva de que a regulamentação deve se concentrar no uso ético da IA, em vez da própria tecnologia. Destacou iniciativas internacionais, como a recomendação de ética em IA da UNESCO, que busca um consenso global sobre práticas responsáveis no desenvolvimento e aplicação. Benjamins argumentou que, embora as ordenações possam parecer uma barreira para a inovação, considerar os possíveis impactos negativos do design pode evitar problemas e melhorar a sustentabilidade do negócio a longo prazo.

O que está por vir

A interconexão em massa de dispositivos em residências, fábricas e ambientes dispersos promete enriquecer as previsões e melhorar a gestão de riscos. Pablo García destacou a Data Act, uma nova lei que facilitará o compartilhamento de dados para gerar valor. “Isso abre novas oportunidades para adaptar produtos aos nossos clientes”, disse. Com a evolução da Internet das Coisas e a regulamentação progressiva, o cenário prevê avanços significativos em simulação e previsão nos próximos anos.

Juan María Aramburu destacou o papel da Internet das Coisas e dos gêmeos digitais na evolução da IA. “A interconexão não só melhora as previsões de riscos, mas também fortalece a capacidade de resposta à crise”, explicou Aramburu, que incide em como a sensorização de ativos industriais permite uma gestão mais precisa e proativa dos riscos.

Mas, como Richard Benjamins advertiu durante sua reflexão final no encerramento da conversa, “é preciso explorar e experimentar” sem a necessidade de coordenar demais para evitar que os avanços se tornem obsoletos. Com responsabilidade, sempre expondo quais podem ser os impactos negativos de sua aplicação.

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