A segunda sessão das XXVIII Jornadas Internacionais, celebradas em 24 de junho em Palma de Mallorca pela MAPFRE GLOBAL RISKS, começou com uma fascinante palestra entre Guillermo Llorente, diretor corporativo de segurança da MAPFRE, e José Luis Pérez, comandante da Policia Civil a cargo da diretoria do Centro Nacional de Proteção de Infraestruturas Críticas da Espanha. Durante a conversa destacou-se a importância de uma visão integral das ameaças, da preparação e da colaboração.
Intrinsecamente relacionada com a temática da última edição das jornadas MAPFRE Global Risks, “Assegurando juntos um mundo sustentável”, conhecemos o trabalho do Centro Nacional de Proteção de Infraestrutura Críticas (CNPIC). Este órgão do Ministério do Interior encarrega-se do incentivo, coordenação e supervisão de todas as atividades encomendadas pela Secretaria de Estado de Segurança em relação à proteção de infraestruturas críticas no território espanhol. “Nada que não seja seguro é sustentável, e as grandes infraestruturas críticas são a estrutura por onde circulam os bens, mercadorias e energias deste mundo”, disse Guillhermo Llorente durante sua apresentação.
Garantir a segurança das infraestruturas críticas, públicas ou privadas, é fundamental para o funcionamento do Estado, já que este tipo de instalação proporciona serviços essenciais à cidadania. Seu correto funcionamento é indispensável para a sociedade. Sua perturbação, interrupção ou destruição teria uma grave repercussão.
Prova de fogo
Da mesma forma que até alguns anos atrás se pensava que os recursos do planeta eram praticamente infinitos, durante muito tempo não se prestou a devida atenção ao funcionamento dessas infraestruturas. “Com a Covid-19 passamos a nos perguntar pela água, luz ou gasolina”, afirmou Llorente.
Nas palavras de José Luis Pérez no CNPIC, “tentamos, ao falar de riscos, proteger as infraestruturas diante de eventos com baixa probabilidade de ocorrência, mas alto impacto”. Sem ser o foco de atenção, inicialmente centrada na proteção das infraestruturas críticas quanto a ameaças de caráter deliberado, de natureza terrorista ou de crime organizado depois do 11/9, a Covid-19 representa uma prova de fogo para essa organização.
Durante os momentos mais duros do confinamento demonstrou-se que quando todos os participantes do Sistema trabalham de maneira coordenada, ele funciona. “Dotamos todo o Sistema, que no fim é o país, de uma grande capacidade de resiliência”, compartilhou o diretor do CNPIC.
A estratégia de segurança nacional incorporou faz tempo a colaboração público-privada a suas filas
Um novo impacto
Ainda não terminamos de superar a pandemia e um novo desafio já põe em alerta ao mundo inteiro: o conflito na Ucrânia. Seu desenlace ainda é incerto e supõe uma forte ameaça em matéria econômica e de segurança. Para Pérez, “a volta a uma guerra convencional avançada propõe novos desafios para todos os estados, pois nos demos conta de que é muito fácil romper a cadeia de suprimentos”. Isso pode ocorrer por um evento, também relativamente improvável, através dos fornecedores, sem necessidade de atacar diretamente uma infraestrutura crítica.
“Esses tipos de situação têm um impacto no funcionamento normal dos serviços essenciais dos fornecedores das infraestruturas críticas e estratégicas”, revelou o especialista. Neste sentido, o tempo e as circunstâncias estão provocando uma perspectiva bem mais ampla do que a que deu origem ao CNPIC. Atualmente, o Centro trabalha para “ampliar o olhar e entender que há outras questões alheias, exógenas à própria proteção da infraestrutura, que afetam e têm um impacto altíssimo na cadeia de suprimentos e na própria implantação e provisão dos serviços essenciais”, manifestou Llorente.
Trabalho constante
Hoje em dia, encontramo-nos em um momento de absoluta volatilidade, completamente expostos à incerteza. O CNPIC tenta abordar todas as questões geradas pelo atual meio VUCA, caracterizado pela volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade. Para isso, aplica metodologias, correção de visão de futuro e um conhecimento mais profundo da situação geopolítica.
O avanço da sociedade e das próprias ferramentas de trabalho também ocasionam a evolução das vulnerabilidades. Para fazer frente a estas novas brechas de segurança, “no Centro implementamos uma análise situacional constante e profunda, porque qualquer tipo de ameaça pode afetar a provisão de serviços essenciais, que é o elemento fundamental quando falamos de infraestruturas críticas”, expôs Pérez.
Todas essas questões são circunstâncias transcendentes para o Estado e para as próprias infraestruturas, protegidas por procedimentos singelos e ágeis, para conseguir responder e coordenar situações totalmente diferentes das previstas. “Há que mudar a visão de trabalho. O planejamento fechado que existia antes não se ajusta à realidade na qual vivemos”, afirmou o diretor.
Colaboração em equipe
O modelo unidirecional de proteção de segurança clássico e tradicional, no qual as Forças e Corpos de Segurança do Estado, ou Forças Armadas no caso da Defesa, proporcionavam estabilidade ao Estado está desaparecendo. A estratégia de segurança nacional incorporou faz tempo a colaboração público-privada a suas filas.
O Sistema Nacional de Proteção de Infraestruturas Críticas foi concebido para coordenar a Administração, o Ministério do Interior, o CNPIC, as Forças e Corpos de Segurança do Estado e das Comunidades Autônomas. As empresas proprietárias ou exportadoras dessa infraestrutura também têm um papel importante.
Embora o Centro e o Sistema estejam ativados permanentemente, nos últimos anos houve ameaças alarmantes. Por exemplo, o comandante José Luis Pérez mencionou, durante a palestra, como atuaram antes do famoso ataque informático: “WannaCry foi um dos momentos em que o Centro teve que se comunicar com todos os operadores com problemas nesse sentido e coordenar a resposta”.
A evolução da proteção
A segurança, como qualquer questão na sociedade, progride. O aparecimento das tecnologias da informação e a comunicação, bem como a consideração das situações geopolíticas e estratégicas a nível mundial, derivam em uma perspectiva holística da segurança. Esta tem passado de ser considerada uma despesa, a ser uma parte fundamental para o próprio funcionamento da organização.
A visão mudou totalmente e foram introduzidos conceitos além da segurança. “Agora falamos de resiliência”. Pérez explicou que a nova diretoria que se está trabalhando refere-se a entidades críticas resilientes. Isso engloba uma dimensão muito maior que não se restringe unicamente ao âmbito de uma ameaça terrorista de crime organizado, mas que abarca uma visão mais global das ameaças.
Se você se interessou, continue lendo… Termina a 28ª edição das Jornadas Internacionais Global Risks da MAPFRE.