A transição energética está mudando os paradigmas das cadeias de suprimento em todo o mundo. Desde a reestruturação de modelos energéticos até reajustes nas estratégias logísticas, essa evolução apresenta grandes desafios e oportunidades para o setor.
Essa revolução está configurando o panorama logístico e energético, tal como explica Iratxe García Gil, especialista do Instituto Basco de Logística e Mobilidade Sustentável (IVL), uma entidade líder em pesquisa e desenvolvimento em sua região.
Do ponto de vista do setor, podemos ver como as cadeias de suprimento estão se adaptando para atender às metas de sustentabilidade e redução das emissões assumidas pelos principais governos do mundo. Nessa evolução, tecnologias emergentes, como inteligência artificial e IoT, estão desempenhando um papel fundamental.
Impulso da comunidade
“Na Europa e nos estados-membros, isso está sendo regulado de tal maneira que, mais do que influenciar, obriga à conformidade. Segundo o Fórum Econômico Mundial, mais de 50% das emissões globais provêm de oito cadeias de suprimento: alimentação, construção, moda, eletrônica, automotivo, bens de consumo de alta rotação, serviços profissionais e transporte de mercadorias”, afirma García Gil.
No IVL, também acrescentam que essa transformação suporia um impacto marginal nos custos, que só aumentariam entre 1% e 4% para o consumidor final. Por isso, a transição para um futuro energético mais sustentável não é apenas uma ambição individual, mas um esforço coletivo impulsionado pela União Europeia que inclui:
- Prazos ambiciosos da comunidade. Buscam cumprir com a descarbonização e geraram uma nova dinâmica nas cadeias de suprimento europeias. Essa urgência impulsionou mudanças fundamentais na forma como os produtos são produzidos, distribuídos e consumidos em toda a Europa, uma vez que as empresas têm que se adaptar a esses novos padrões e encontrar soluções inovadoras para minimizar o seu impacto ambiental.
- Proteção da produção local. Em um contexto de crescente globalização, garantir a segurança e a autonomia na produção de bens e serviços é essencial para manter a estabilidade da economia regional. Portanto, as políticas que promovem a proteção da produção doméstica e a regulamentação das importações visam a fortalecer a posição competitiva da Zona do Euro no mercado global.
- Compromisso com a conformidade. As empresas estão adotando uma abordagem proativa para padrões ambientais mais rigorosos, implementando práticas e processos que minimizam sua pegada ambiental. Esse compromisso não é apenas uma demonstração de liderança empresarial, mas também contribui para o desenvolvimento de uma economia mais sustentável e resiliente para as gerações futuras.
Adoção de novas tecnologias
“A digitalização e a sustentabilidade se complementam, já que não é possível descarbonizar as cadeias de suprimento nem o uso e implantação delas”, explica a especialista. Em resposta à crescente consciência ambiental e à necessidade de otimizar processos, muitas organizações já estão integrando essas tecnologias em várias áreas.
Essas mudanças não representam apenas uma resposta às demandas do mercado e às regulamentações governamentais, mas também uma oportunidade de melhorar a eficiência, a transparência e a competitividade em um ambiente de negócios em constante evolução. Algumas dessas etapas compartilhadas seriam:
- Integração de energia renovável. À medida que as empresas buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e adotar fontes de energia mais limpas, são necessárias mudanças nos modelos logísticos tradicionais. Do planejamento de rotas de transporte ao projeto de armazéns e centros de distribuição, cada aspecto da cadeia de suprimento deve ser adaptado de forma mais sustentável.
- Avanços em logística preditiva. Com o Big Data e a Inteligência Artificial, as empresas podem coletar e analisar grandes quantidades de dados em tempo real para identificar padrões, tendências e oportunidades. Isso permite que elas antecipem as demandas do mercado, prevejam possíveis problemas logísticos e tomem decisões informadas.
- Irrupção da Internet das Coisas (IoT). Permite o monitoramento em tempo real de todos os participantes em toda a cadeia de suprimento para que as empresas otimizem processos, reduzam custos operacionais e melhorem a visibilidade dos produtos. O objetivo é tomar decisões mais informadas e responder rapidamente às mudanças nas condições do mercado.
Olhando para o futuro
Iratxe García Gil destaca como “as empresas bascas estão na vanguarda da gestão ambiental e do compromisso com a sustentabilidade”. Conforme revela a primeira edição do ‘Atlas de la Empresa Comprometida de Euskadi’, 91% das empresas da região mostram um planejamento destacado em gestão ambiental e compromisso com a sustentabilidade. Isso se manifesta em uma variedade de ações, desde a busca ativa por certificações ambientais até a promoção da conscientização entre os funcionários.
No entanto, a especialista também assinala que, “apesar desses avanços, as resistências costumam vir quase sempre do aspecto das pessoas, já que o ponto fraco das tecnologias é o fator humano, porque geralmente não administramos muito bem a gestão da mudança e sair de nossa zona de conforto”.
Apesar dos desafios, a especialista insiste na importância de abordar esses desafios para caminhar para um futuro mais sustentável, e incentiva as empresas a “trabalhar a descarbonização como uma oportunidade de melhoria para o setor, estabelecendo objetivos de redução ambiciosos e holísticos, e interpretando também como uma maneira de ressarcir os maus costumes e o dano causado ao meio ambiente”, conclui.
Colaborou neste artigo:
Iratxe García Gil é diretora de Organização e Desenvolvimento Corporativo do Instituto Basco de Logística e Mobilidade Sustentável.
Essa entidade tem como objetivo promover a logística eficiente e a mobilidade sustentável na região do País Basco. Foi encarregada da Área de gestão e direção, da direção do Mestrado de Logística Integral Presencial e da área de representação institucional.