A pandemia de COVID-19 se tornou um marco na história e, embora nem todas as mudanças ocorridas desde então estejam diretamente ligadas à crise sanitária global, 2020 pode ser considerado o ponto de partida de um novo contexto mundial. Há cinco anos, as restrições de mobilidade e os confinamentos obrigatórios alteraram drasticamente a sociedade e a atividade econômica global. Todos os setores tiveram que enfrentar, em curto prazo, desafios fundamentais: garantir a continuidade dos negócios, proteger a saúde de seus colaboradores, gerenciar uma crise generalizada que sinalizava uma desaceleração econômica global e se adaptar a novos riscos e padrões de comportamento social.
Esse abalo internacional marcou, sem dúvida, o início de um novo ciclo em muitos aspectos, influenciando até hoje a evolução da indústria de seguros. Ao completar cinco anos do início da pandemia, analisamos a reação e a resiliência demonstradas pelo setor.
Adaptação e resposta: o primeiro impacto
A crise da COVID-19 representou um grande desafio para o setor segurador, que precisou lidar com uma onda de sinistros, a incerteza dos segurados e uma mudança drástica no perfil de riscos. Além disso, a interrupção das atividades econômicas e das cadeias logísticas aumentou a instabilidade dos mercados, obrigando as seguradoras a reforçar a confiança dos clientes e parceiros por meio de comunicados que garantiam a continuidade dos serviços. Isso só foi possível graças a uma rápida assimilação de novas tecnologias, apesar dos desafios impostos pela adaptação às novas demandas das empresas e instituições.
A comunicação foi um dos pilares da resiliência do setor, tanto para informar sobre a situação quanto para atender às demandas dos segurados. Como destacou Pilar González de Frutos, presidente da Unespa, durante as Jornadas Internacionais da Mapfre Global Risks realizadas em 2022, o desempenho da indústria em um momento tão excepcional foi mais do que notável. Em meio a um período de instabilidade, cada empresa se esforçou para manter a rede de prestação de serviços ativa. Como resultado, muitas apólices e coberturas foram revisadas e ajustadas ao longo daqueles meses.
Na Espanha, também foram implementadas importantes iniciativas sociais, como a criação de um fundo de 38 milhões de euros, financiado por 107 seguradoras, para oferecer cobertura em caso de falecimento e hospitalização ao pessoal que atuava na saúde pública ou privada, bem como em lares de idosos ou para pessoas com deficiência.
Uma assimilação tecnológica sem precedentes
A transformação digital dos principais setores econômicos já estava em andamento antes da pandemia, mas a emergência sanitária acelerou seu avanço, tanto na operação interna das seguradoras como diante dos clientes e da gestão de riscos. Desde então, a assimilação tecnológica foi exponencial e progressiva.
Segundo um relatório elaborado pela Associação Espanhola de FinTech e InsurTech (AEFI) em 2022, a digitalização impulsionou o desenvolvimento de produtos inovadores e apólices personalizadas, adaptadas às características e solicitações concretas do cliente, bem como a criação de plataformas nas quais segurados e corretores podem comunicar sinistros ou interpor reclamações de forma instantânea.
A inovação também permitiu a análise em massa de dados, que otimizou aspectos fundamentais como a previsão de riscos, a detecção de fraudes ou a avaliação de danos. Estas técnicas, aplicadas à análise preditiva, melhoraram a eficiência operacional, reduzindo custos e melhorando o atendimento aos clientes.
Este avanço tecnológico é imparável. Como apontou Javier Santiso, CEO e Sócio Geral da Mundi Ventures, nas últimas Jornadas Internacionais da MAPFRE Global Risks: “A digitalização e a Inteligência Artificial estão redefinindo indústrias inteiras, marcando o início de uma era de progresso acelerado e mudanças significativas que irão moldar o futuro da humanidade”.
Funcionários: novos programas de benefícios
Durante a pandemia, o ambiente de trabalho precisou se adaptar a circunstâncias excepcionais: o teletrabalho rompeu com a dinâmica tradicional de escritório, levando à criação de novas formas de comunicação e colaboração à distância. Estas medidas, previstas inicialmente como soluções temporárias, foram consolidadas como uma realidade permanente e redefiniu a relação entre os funcionários e as empresas.
Neste contexto, as seguradoras estão se adaptando rapidamente a uma imparável mudança geracional e social, impulsionada por novas expectativas (pessoais e profissionais) e um ambiente cada vez mais fluido e digital. São relevantes as palavras pronunciadas por Ramón de la Vega, Diretor de Financiamento de Riscos Corporativos da Telefónica, que durante as últimas Jornadas Internacionais celebradas pela MAPFRE Global Risks assegurou que: “Nos processos de seleção, os candidatos jovens – e não tão jovens – dão muita ênfase ao trabalho híbrido e à flexibilidade no trabalho, já que lhes permite organizar melhor sua vida pessoal com sua vida profissional”. Seu bem-estar e sua saúde física e mental também são um requisito prioritário para os profissionais e, portanto, para as empresas que desejam atrair e reter talento.
É por isso que os Programas de Benefícios para Funcionários ganharam uma importância essencial para o setor segurador, que começam a oferecer novas soluções, não só centradas no atendimento médico, mas na proteção emocional de suas equipes. Por outro lado, grandes empresas têm adotado cativas para dispersar riscos, reduzir custos e melhorar seu rating de crédito.
Novos compromissos e riscos emergentes
Além da pandemia, nos últimos cinco anos surgiram novos riscos emergentes que estão ganhando protagonismo nas agendas das seguradoras.
A digitalização em massa do setor, junto com a crescente interconexão entre empresas, com colaboradores e clientes, fez com que aflorassem ameaças cibernéticas cada vez mais comuns e destrutivas. Graças à pesquisa e aos avanços tecnológicos, foram criadas infraestruturas para proteger do usuário individual até os centros de dados corporativos. No entanto, este cenário gerou um desafio para as seguradoras, que devem desenhar coberturas para estes riscos, cujo alcance e quantificação nem sempre são fáceis de calibrar.
Outro risco emergente são os conflitos geopolíticos e as tensões internacionais, que alcançaram níveis alarmantes, comparáveis aos da Segunda Guerra Mundial. Conforme o último Índice de Paz Global elaborado anualmente pelo Institute for Economics & Peace (IEP), que classifica 163 países e territórios segundo seu nível de paz, cobrindo 99,7% da população mundial, atualmente existem 56 conflitos ativos, muitos deles profundamente internacionalizados, com a participação de até 92 países fora de suas fronteiras. A Europa continua sendo a região mais pacífica, enquanto o Oriente Médio e Norte da África são as áreas mais afetadas.
Outro dos fatores que mais impactam na gestão de riscos é a mudança climática. Fenômenos meteorológicos extremos e os efeitos do aquecimento global – secas, aumento de temperaturas, tempestades, etc. – obrigaram o setor segurador a assumir o desafio de criar novas soluções e combinar a proteção financeira com serviços de prevenção. Esta conjuntura global também impactou nas políticas do setor. As seguradoras estão cada vez mais comprometidas com a sustentabilidade – no plano ambiental e social -, portanto, devem cumprir padrões mais estritos tanto em suas operações internas como na subscrição de riscos de sua carteira de clientes.
