Segundo dados da OMC, 80% das transações comerciais são realizadas por via marítima, o que faz dos navios elementos essenciais do desenvolvimento econômico mundial. Um dos acidentes mais comuns sofridos na travessia são os incêndios. Veremos como a inovação está lutando contra o fogo em alto mar.
Os navios ro-ro (roll on-roll off) ou de transporte marítimo de carga rodada, destinados a transportar todo tipo de veículos, são um componente essencial do sistema de transportes global que enfrenta riscos particulares. Nos últimos anos registrou-se um número significativo de incêndios internacionais e, segundo dados da Comissão Permanente de Investigação de Acidentes e Incidentes Marítimos do Ministério de Fomento da Espanha, só em 2021 foram 12 acidentes importantes com fogo em barcos de bandeira espanhola.
Os incêndios em navios são um dos principais problemas de segurança no setor marítimo e um risco que deve ser considerado pelas catastróficas consequências que pode ter. No caso de ocorrerem em um navio ro-ro, a chave está em uma atuação rápida que permita sua extinção. Para isso, é necessário contar com protocolos adequados, equipamentos de emergência e uma tripulação que conheça suas responsabilidades. Da mesma forma, antes de sair para o mar, é necessário verificar se o alarme do navio funciona e se está sincronizado com outros sistemas de assistência.
Devemos considerar um contexto no qual os veículos diferem e os desafios para a mobilidade são os de antigamente, com a introdução dos novos combustíveis na carga rolante. Neste panorama, surge em 2019 o projeto Lash Fire, Legislative Assessment for Safety Hazards of Fire and Innovations in Ro-ro ship Environment ou Avaliação Legislativa de Riscos de Segurança contra Incêndio e Inovações no Âmbito dos Navios Ro-Ro, financiado pela União Europeia.
Esta iniciativa busca a criação de soluções de segurança contra incêndios marítimos por meio de tecnologias, operações e aplicativos inovadores. Seu quadro de atuação são os navios ro-ro e o impulso de transportes mais seguros com sistemas de prevenção de incêndios renovados que promovam uma legislação adequada à nova mobilidade. Na Espanha, participam o Centro Internacional de Métodos Numéricos em Engenharia da UPC (CIMNE), o governo da Catalunha e o Centro de Segurança Marítima Integral Jovellanos, da Sociedade Estatal de Salvamento Marítimo (Sasemar), desenvolvendo este projeto conjunto do qual participam 28 entidades europeias.
A carga e a prevenção
Aproximadamente 90% dos incidentes em navios ro-ro ocorre devido a um incêndio na carga que transportam, conforme as análises do Centro para a Inovação no Transporte (CENIT), um consórcio público entre a Universidade Politécnica e o governo da Catalunha. O projeto Lash Fire põe especial ênfase nisto, avaliando três tipos de navios ro-ro: Ro-pax, Ro-ro Cargo e Vehicle Cargo, sobretudo considerando a disposição dos depósitos de carga rolante, bem como a capacidade de carga e passageiros.
Estes navios seguem uma série de regulamentos, mas não há uma estrutura específica para a prevenção de incêndios. Por isso, o Lash Fire procura adaptar o regulamento marítimo internacional ao novo cenário. Para tanto, os diferentes tipos de navios, os lugares de colocação da carga e o resto dos espaços do transporte são estudados, atribuindo a cada área um nível de risco específico e definindo novas formas de distribuir a carga nas diferentes coberturas do barco para reduzir o risco da expansão do incêndio.
Verdadeiramente fundamental é tratar de evitar o aparecimento do fogo. Para a prevenção, foram implementadas soluções que ajudam a detectar pontos quentes e a calcular os riscos com maior exatidão. É o caso dos drones, que podem monitorar a temperatura dos veículos ou do arco de sensores, que, localizado no terminal, examina os pontos quentes de cada navio. Também é de grande utilidade o Stowage Planning Tool, uma ferramenta para planejar e estivar a carga no convés ou as novas diretrizes definidas para a desconexão e monitoramento de veículos elétricos ou unidades refrigeradas conectadas a bordo.
Veículos elétricos e de combustão interna
Um dos grandes riscos reside no transporte de automóveis elétricos, pois sua tecnologia complica a segurança a bordo. Por isso, é preciso desenvolver novos sistemas para seu transporte. Em março de 2022 ocorreu o incêndio e posterior afundamento do navio Felicity, gerando a perda dos 4 mil veículos que transportava. A atenção então se centrou nos riscos associados não só em transportar este tipo de automóvel, mas também nas baterias de íons de lítio que o alimenta.
Por enquanto, não se conhecem as causas do incêndio. Especula-se que as baterias agravaram as condições do fogo, já que implicam perigos para além do incêndio, como explosão, fuga térmica, liberação de gases tóxicos por fabricação negligente, sobrecarga, superaquecimento e, inclusive, problemas por dispositivos danificados ou mal manipulados.
É verdade que os desafios são importantes, mas segundo diferentes instituições, as perspectivas são positivas graças ao potencial das novas tecnologias e aos renovados procedimentos em alto mar
Há quase uma década, em 2013, esta questão começou a ser abordada e o Ministério Federal Alemão dos Transportes, Construção e Desenvolvimento Urbano realizou um estudo para saber se o transporte de veículos elétricos em navios ro-ro aumentava o perigo de incêndio. A conclusão foi que, efetivamente, os veículos de propulsão elétrica implicam maior risco.
Não devemos esquecer que os veículos com motor de combustão têm muitos elementos comuns com os elétricos. De fato, segundo dados analisados no Lash Fire, as causas mais frequentes de incêndios fortuitos são freios quentes, líquidos inflamáveis e avarias elétricas. Quanto à estatística, também há mais incêndios provocados por veículos de combustão do que pelos elétricos em navios ro-ro, pois o número de veículos transportados é bem mais elevado.
Atenuar os riscos
É imperativo abordar a problemática atual e aprofundar a prevenção de incêndios nos navios ro-ro. A proteção deve ser atualizada de uma perspectiva ampla e de longo prazo. É verdade que os desafios são importantes, mas segundo diferentes instituições, as perspectivas são positivas graças ao potencial das novas tecnologias e aos renovados procedimentos em alto mar. As soluções devem estar em equilíbrio quanto ao impacto no meio ambiente, custos e operações da tripulação.
Para resolver os desafios técnicos da atualização do regulamento e melhorar ou construir navios mais seguros e competitivos para um transporte sustentável, o Lash Fire está proporcionando um vasto conhecimento da indústria europeia. O projeto centra-se em pesquisar e resolver diferentes aspectos para atenuar os riscos:
- Eficácia: Implementação de operações manuais de gestão de incêndios mais eficazes.
- Segurança: desenho otimizado para operações críticas em caso de incêndio para uma melhor tomada de decisões.
- Prevenção: redução das fontes de ignição e provisão de detecção automática.
- Detecção: meios técnicos rápidos, confiáveis e robustos para a detecção e avaliação de incêndios.
- Extinção: extinção rápida com independência dos fatores individuais de cada navio.
- Contenção: eliminação das debilidades para a contenção, como a fumaça, o fogo e o calor.
Do Lash Fire espera-se que esta operação ajude a reforçar significativamente a proteção contra incêndios nos diferentes tipos de navios ro-ro, reduzindo a sua frequência em pelo menos 35%.
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