A consolidação tecnológica da indústria 4.0 evidencia-se de maneira muito palpável nas áreas onde convergem a maioria dos processos que conformam sua atividade: os polígonos industriais inteligentes. Essas áreas específicas não somente representam uma concentração de serviços, mas abrangem a transformação cultural do tecido empresarial e novas formas de gestão, que nos posicionam em um cenário inovador sem precedentes.
Se existe um adjetivo que acompanha à Indústria 4.0 é inteligente. As tecnologias emergentes estão revolucionando o setor, automatizando e otimizando os processos tradicionais, evitando exposição a riscos e melhorando sua eficiência. A progressiva implantação desse conjunto de técnicas resultou na criação dos polígonos industriais inteligentes que, como explica Romina Moya, CEO de Gainsdustriales e gerente da APPI -Associação de Empresários de Parques e Polígonos lndustriais e da Associação Empresarial Polígonos Riba-roja A3- não só é um conceito tecnológico, mas o presente e o futuro da atividade. “Falamos de transformação cultural, de novas maneiras de gerenciamento considerando adequadamente a inovação, o uso de tecnologias ou a gestão da mudança em cada área industrial,” explica. Para que essa evolução se torne realidade, as empresas devem estar dispostas a adotar “um espírito inovador e crítico”, com base na aplicação de ferramentas TIC e de “uma governança aberta e transparente”.
“No nível de direção, tanto nas indústrias quanto nos gestores de áreas industriais, altera-se a visão dos problemas e das soluções, e sabemos que a análise de qualquer situação deve ser objetiva e concreta. Hoje em dia, as estimativas não têm valor e por isso existe um conceito real em toda essa mudança cultural: o dado, entendido como unidade individual de informação que pode ser manipulada na tomada de decisões. Por isso, devemos ser capazes de definir, registrar e utilizar as análises adequadas para a tomada das melhores decisões”, assevera Moya. Apesar de que esta visão diferenciadora já está implantada no tecido industrial, é preciso integrá-la no contexto atual, partindo de um aproveitamento das ferramentas derivadas da transformação digital.
Tecnologias de suporte
Como explica a gerente da APPI, em tecnologias de suporte aplicáveis a polígonos industriais inteligentes deveriam ser consideradas aquelas que servem para brindar inteligência à gestão das diferentes áreas de trabalho, otimizando os serviços tanto para os membros da empresa quanto para os usuários finais. Essas ferramentas básicas seriam:
- Infraestrutura de telecomunicações. O acesso a esses serviços de conexão mediante grande variedade de dispositivos, telefonia fixa, IP, computadores, sistemas de produção, tabletes, etc., com conexão de qualidade e garantias suficientes de segurança. “Especificamente, as comunicações via fibra óptica, tecnologia existente mas não implementada de maneira geral em todas as áreas industriais, ou as possibilidades futuras que oferecerão as tecnologias sem fio como 5G.”
- Sistema de inteligência competitiva. Para a coleta, organização e tratamento agregado de dados relevantes, relacionados à gestão da área ou aos serviços prestados.
- Plataforma integrada de gestão. É preciso promover o desenvolvimento de aplicativos que possibilitem a gestão integrada da manutenção em áreas industriais, bem como dos serviços prestados, tais como:
- Controle e gestão da segurança, permitindo a proteção dos dados armazenados ou gerenciados pelas empresas.
- Tecnologias energéticas e ambientais inovadoras, que concedam maior sustentabilidade ambiental e energética ao espaço público, às infraestruturas ou às empresas.
Eixos fundamentais de gestão
A coordenação e utilização dos serviços tecnológicos implantados em qualquer área industrial sempre depende da atividade e do objeto da indústria. No entanto, existem pontos fundamentais que devem ser cobertos ao momento de implantar uma arquitetura eficiente nos polígonos, e que Romina Moya detalha em sete aspectos:
- Segurança física e cibersegurança, com ferramentas para a gestão de emergências, sistemas de alarme e comunicação, equipamentos de videovigilância, agentes e localizadores remotos, sistemas de análise preditiva de riscos de segurança, etc.
- Mobilidade, com o desenvolvimento de transportes de mercadorias que empreguem de maneira eficaz e eficiente as infraestruturas disponíveis, bem como a melhoria da qualidade de vida dos usuários, reduzindo ou eliminando a saturações em acessos e os acontecimentos inesperados.
- Emergências e resiliência perante desastres, implantando e promovendo serviços que permitam mitigar o efeito de incidentes.
- Fornecimento, com a implementação de soluções de monitoramento, análise e predição das operações nos sistemas de fornecimento de energia elétrica, telecomunicações ou água, a fim de otimizar os recursos e alcançar altas contas de sustentabilidade.
- Manutenção, com a construção de plataformas comuns de gestão que incorporem sistemas de coleta e interpretação de dados, geolocalização de infraestruturas -e estimativa de seu estado de conservação-, e agir proativamente na manutenção.
- Resíduos, com a promoção de fórmulas de simbiose industrial que atenuem a geração de resíduos, a fim de reduzir o problema da criação, transporte, tratamento ou armazenamento de resíduos industriais.
Passos para a transformação
Na Gaindustriales asseguram que, para realizar a transformação de um polígono tradicional para uma área industrial inteligente em um desenvolvimento que pode abranger dois anos, é necessário um categórico planejamento prévio. “Como qualquer projeto, o primeiro ponto é analisar a situação, os problemas a serem resolvidos e definir uma estratégia para passar do ponto de partida”, afirma sua fundadora. Sobre a base desse planejamento estratégico, serão definidas as metas e os objetivos concretos a alcançar em uma faixa de tempo específica. Os obstáculos mais comuns a serem resolvidos pela maioria das indústrias se centram em cinco frentes: mobilidade, sustentabilidade, segurança, conectividade e networking. A integração de tecnologias emergentes que permitam a automatização de processos, a análise avançada ou a sensorização de recursos podem significar um grande salto qualitativo para a atividade industrial.
Apesar da existência de um leito contextual que permite a padronização dessas práticas e a estruturação de uma arquitetura inteligente nas áreas industriais, ainda existem dificuldades que vão além do campo prático e que estão relacionadas a uma mudança de mentalidade. “O principal desafio que encontramos é alinhar os interesses de todos os agentes do tecido empresarial: operários da área, companhias, entidades gestoras, administrações, etc. Além disso, temos condicionantes legais que na Espanha não são menores,” expõe. Quanto ao investimento necessário, considera que é preciso focar no benefício que oferece para que “todos os agentes enxerguem o pay back dos esforços -tanto econômicos quanto de recursos-, e uma parceria público-privada que garanta “um compromisso de todas as partes, para que não sejam paralisados ou esticados projetos durante anos e para que o plano esteja alinhado com a estratégia do território”, conclui.
Benefícios da implantação
Partindo dos principais obstáculos operacionais, a integração de um serviço inteligente nas áreas industriais abrange inúmeros benefícios, entre os quais é possível salientar:
- Aperfeiçoamento dos mecanismos de segurança, tanto de prevenção de riscos profissionais quanto da exposição de recursos materiais. O monitoramento de efetivos, o acompanhamento de rotinas e os sistemas de alerta podem auxiliar na contenção de riscos.
- A coleta de informação, a análise de dados e as ferramentas de simulação permitem criar, a partir de modelos preditivos, algoritmos de alta eficiência para evitar acidentes ou deficiências nos sistemas de segurança.
- A otimização de caminhos, transportes inteligentes e não tripulados pode conferir à indústria uma mobilidade eficiente. Além disso, a redução de veículos pode melhorar a gestão, evitando gargalos na cadeia de valor.
- Facilita a coordenação entre diferentes áreas, criando um ecossistema sistematizado e transparente, que pode ser acessado de maneira rápida e instantânea.
- Em uma visão global, a possibilidade de potencializar a colaboração entre as diferentes empresas, adaptando lotes de produção para tendências do mesmo setor. Além disso, compartilhando variáveis de qualidade, capacidade e logística podem ser conseguidas economias de curto, médio e longo prazo, o que resultaria em preços mais competitivos em toda a cadeia de fornecimento.
Colaborou neste artigo…
Romina Moya é Engenheira Técnica Informática pela Universidade Politécnica de Valência, estudou ciências empresariais na Universidade de Valência e finalizou seus estudos na ESIC com formação em Marketing. Sua experiência profissional esteve vinculada à tecnologia e à indústria desde seus começos, e atuou em empresas como as consultoras estratégicas Ahora Soluciones e Forintec e, nos últimos anos, como gerente de áreas industriais.
Seu compromisso com a inovação das áreas industriais levou ao seu envolvimento na gerência de APPI (Associação de Empresários de Parques e Polígonos lndustriais -Ribera Baja-) e na de RIB A3 (Associação Empresarial Riba-rojo A3), gerenciando as áreas industriais de Almussafes e Riba-roja, áreas estratégicas para a indústria da Comunidade de Valência. Na atualidade, oferece os serviços de profissionalização das áreas industriais através da companhia Gaindustriales.