O desenvolvimento dos processos de produção está vinculado inevitavelmente à gestão dos perigos a que estão sujeitos. Por esse motivo, a segurança industrial faz parte da cadeia de valor de qualquer entidade. As mesmas tecnologias emergentes, que estruturaram a indústria 4.0, redefiniram os modelos de proteção que zelam pela prevenção e pela mitigação de riscos nas grandes companhias.
A revolução tecnológica, que transformou a grande indústria, redefiniu inteiramente o segmento da segurança no trabalho e na produção. A aplicação de medidas de prevenção e a limitação de riscos encontrou nas tecnologias emergentes ferramentas que possibilitam a otimização da eficiência dos sistemas tradicionais e alcançar novas técnicas, que resolvem brechas na proteção das empresas. Pedro García-Trejo, engenheiro técnico industrial, pode nos oferecer algumas chaves deste novo cenário em matéria de segurança industrial.
“Não posso dizer que exista uma brecha entre as necessidades das empresas e a capacidade de resolver esses problemas, embora seja verdade que os requerimentos para a prevenção de riscos são cada vez mais exigentes. Otimizar a produção e obter retornos de investimento significa que os tecnólogos devemos ser capazes de apresentar aplicações e produtos que solucionem as ausências de segurança nas empresas, sem prejudicar nem alterar padrões de trabalho existentes”, explica o especialista.
Uma nova arquitetura
Para implementar com sucesso a inovação nos sistemas de segurança vigentes, García-Trejo assinala que é preciso escolher uma integração de tecnologias que evite a ideia da renovação completa. “Em muitos casos, as novas tecnologias não substituem as existentes por nível de efetividade, mas são um complemento que melhora o ambiente de trabalho. Por exemplo, câmeras de reconhecimento de pessoas não deveriam ser utilizadas como substitutos do scanner laser sempre que este for viável”, assevera. A inclusão desse conjunto de técnicas representou um salto de qualidade na segurança do trabalho e industrial, setor que agora conta com a possibilidade de resolver problemas que há apenas alguns anos eram impossíveis, ou de tornar situações difíceis de gerenciar em rotineiras e de fácil solução. “Por exemplo, no campo da vigilância e da supervisão de trabalhadores em solitário, a tecnologia atual permite localizar um operário em áreas sem cobertura. Certos mecanismos de acompanhamento atuais também oferecem a possibilidade de proteger pessoas que devem manipular máquinas móveis em fábricas ou áreas de trabalho, evitando acidentes e minimizando possíveis impactos”, menciona.
A aplicação de medidas de prevenção e a limitação de riscos encontrou nas tecnologias emergentes ferramentas que possibilitam otimizar a eficiência de sistemas tradicionais e alcançar novas técnicas que resolvem brechas na proteção das empresas.
Na implantação de uma nova arquitetura de segurança em uma entidade, que consiga coordenar tanto as tecnologias vigentes quanto as potenciais, a engenharia aplicada funciona como eixo fundamental de planejamento. A partir desta disciplina pode ser projetada uma estrutura combinada que analise as lacunas existentes e as propriedades que podem oferecer as tecnologias emergentes, sem desatender às necessidades específicas de cada setor e à prevalência da continuidade na produção. Nessa incorporação, que em escala mundial está acontecendo de maneira rápida e imparável, é preciso evitar conservadorismos e apostar pela última tecnologia para evadir vulnerabilidades. A inovação contínua, no contexto técnico e operacional, é chave neste percurso. “É imprescindível a formação diária, sermos capazes de manter atualizado o conhecimento sobre a tecnologia. Hoje em dia, a velocidade da mudança significa que, se você parar cinco minutos, perderá alo importante, ficará de fora e portanto, não estará no mercado”, insiste.
Linhas de aplicação
Hoje em dia, os sistemas de segurança já possuem exemplos bem-sucedidos da implantação de tecnologias que impulsionam a produtividade nas indústrias, cuja aplicação acontece tanto durante a operatividade quanto em matéria de prevenção e formação.
- Realidade virtual: permite que os operários adquiram a formação para seu posto de trabalho sem lidar com os riscos derivados da inexperiência, e até experimentar sua atuação e reação diante de situações de emergência.
- Sensorização: com o monitoramento contínuo da máquina, é possível evitar acidentes causados pelo desgaste de componentes, a vigilância de locais para garantir ambientes seguros ou a detecção de agentes nocivos e até o acompanhamento dos operários para preservar seu estado físico.
- Big data e inteligência artificial: a coleta e processamento do imenso volume de dados gerado na atividade industrial dá lugar a algoritmos, que podem predizer acidentes e detectar riscos antes que aconteçam.
- Veículos não tripulados: os drones são utilizados em grandes construções para substituir operários na execução de trabalhos de risco, vistoriar áreas de difícil acesso ou realizar tarefas a grande altura.
- Exoesqueletos: como armaduras ou suportes robóticos, adaptados ergonomicamente ao trabalhador, os exoesqueletos permitem evitar certos riscos do trabalho, zelar pelo bem-estar dos portadores na realização de ações repetitivas ou prolongadas no tempo e melhorar a qualidade da atividade.
Progresso na implantação
Os sistemas de segurança são garantes silenciosos pelo bom funcionamento da empresa e, embora não tenham peso específico na imagem corporativa, em si mesmos são um retorno para a cadeia de valor. Além da prevenção de riscos, que podem colocar em risco a produtividade ou dar lugar a perdas econômicas, García-Trejo salienta o efeito negativo que um acidente poderia ter nos trabalhadores. Nesta linha, existem certos setores que estão implantando com muito sucesso as tecnologias emergentes. “Tanto áreas logísticas quanto depósitos automáticos ou congeladores industriais, esses departamentos da grande indústria estão demonstrando grande interesse em se proteger contra possíveis acidentes de trabalho. Por sua vez, existe atenção crescente para a gestão das informações coletadas por esses equipamentos e que são trasladadas aos novos ambientes cloud”, acrescenta.
O controle e o acompanhamento por parte destes serviços de armazenamento externo permitem ampliar o nível de vigilância e atribuir novas metodologias de trabalho. “Dados de sensores de segurança, como verticalidade, incidentes entre máquinas móveis e usuários, entre outras muitas variáveis, são registrados e armazenados nessas plataformas para posterior processamento e análise, questão que permite criar planos de formação e protocolos” adaptados às necessidades específicas das áreas envolvidas. Com essa finalidade, o papel dos provedores de tecnologia será chave neste ramo essencial da indústria 4.0. “O desafio está em conhecer e permanecer formados e informados das técnicas que temos à nossa disposição. Nesse ponto, um ótimo departamento de P+D, qualificado, com experiência e bem sincronizado é vital”, conclui.
Colaborou neste artigo…
Pedro García-Trejo é engenheiro técnico industrial pela Universidade de Vigo, com especialidade em automática e eletrônica, e técnico superior em prevenção de riscos no trabalho. Conta com uma titulação de especialista em atmosferas explosivas pela cátedra Madariaga da Universidade de Madri.
Em 1997, ele fundou GTG Ingenieros, empresa de engenharia com mais de 20 anos de experiência no campo da segurança industrial que trabalha com empresas e grupos em mais de 16 países. A empresa adapta a tecnologia para proteger os trabalhadores em ambientes industriais. Ao longo dos anos, foram desenvolvidos e patenteados vários dispositivos de segurança e eles são pioneiros no uso de dispositivos baseados em radiofrequências especialmente desenhadas para a segurança industrial e das pessoas.