A tecnologia marca os passos do desenvolvimento industrial. A principal meta de sua trajetória é alcançar uma conectividade mais rápida, segura e eficaz. A chave deste novo contexto encontra-se no 5G, carro-chefe da digitalização do setor. Analisamos a situação e o potencial de sua infraestrutura tecnológica com Joaquín Guerrero, Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Politécnica de Valência e diretor da Nae.
As grandes revoluções industriais da história sempre foram definidas por um avanço tecnológico. A última meta, enquadrada na chamada Indústria 4.0, relaciona-se à conectividade e à digitalização de processos. A progressiva implantação do 5G fará possível uma execução mais rápida, segura e eficiente. Como afirma Joaquín Guerrero, Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Politécnica, “se conformar com isso seria renunciar à autêntica transformação que a digitalização completa pode oferecer: novas maneiras de fazer as coisas, mas também coisas novas que fazer”.
Fundamental para este aproveitamento é o chamado Operative Technology (OT) & Information Technology (IT) Convergence, que permite que os elementos que controlam e executam os processos no meio industrial unam a grande velocidade com os sistemas de informação que se movem no mundo dos dados. “Isto só será possível se existir uma conectividade adequada entre ambos mundos. Deve tratar-se de uma conectividade escalável, isto é, que atinja o nível suficiente de largura de banda para a transmissão de vídeo de muito alta resolução, por exemplo. Também deve ser capaz de suportar densidades de dispositivos conectados muito altas, para poder funcionar em meios completamente monitorados como uma instalação energética. E deve ser segura e previsível, garantindo as prestações que permitem uma conexão eficaz entre ambos tipos de sistemas. O 5G é um dos melhores candidatos para cobrir todos estes requerimentos de maneira eficaz”, afirma.
Uma revolução em andamento
Ainda que a conexão dos elementos digitais que gerenciam processos industriais, com frequência mediante soluções com fio, seja um fato há décadas, sua coordenação com o setor das telecomunicações para conseguir uma integração mais estreita e uma transformação mais ampla se potenciou no último ano. Este esforço compartilhado faz-se para atingir lucros superados como a monitoração de meios industriais, os protocolos orientados a IoT ou a migração para soluções sem fio, habitualmente baseadas em Wifi, que permitem obter valor de uma maneira muito eficaz. “A confluência da hiperconectividade digital, as ideias do que se denomina Indústria 4.0 e a desejada revolução verde são chamadas a transformar de maneira total o setor. No entanto, não deve ser perdido de vista que os processos evoluem de maneira muito conservadora, sujeitos a uns requisitos de segurança e replicabilidade e a suas próprias disciplinas de custo”, expõe. O especialista acrescenta que os tempos marcados pela indústria fazem que o que se promova hoje se incorpore às fábricas dentro de 5 ou mesmo 10 anos.
O 5G nasceu, precisamente, com o objetivo de sustentar esta nova conectividade industrial. De fato, como afirma Guerrero, um dos pilares da solução são as comunicações confiáveis e de baixa latência (ultra reliable and low lantency communications), que se desenvolveram de maneira praticamente exclusiva em meios industriais. “Esta funcionalidade está disponível na versão anterior da norma (a publicação 16 de 2020, a versão 17 foi publicada no final de março de 2022), mas requer para sua implementação o que se denomina Core “Stand alone”, isto é, um novo núcleo de rede independente do de 4G. A disponibilidade dessas redes de maneira comercial é, ainda, muito limitada”, adverte.
Apesar de seu incipiente desenvolvimento, estão sendo realizadas dezenas de provas-piloto na Espanha – centenas em escala europeia -, em indústrias como a automotiva, a logística ou a energética. Em nosso país, também está muito presente na agricultura e no turismo. Como nos explica o diretor da consultora Nae, os casos de uso que mais avançam na atualidade incluem vários tipos de tecnologias:
- Realidade virtual e aumentada para seu uso em meios de manutenção, incluindo a conexão direta de especialista sem presença no campo.
- Soluções baseadas em drones sem visão direta para a análise com vídeo de muito alta resolução, focado ao exame de instalações industriais ou o monitoramento de dejetos.
- Veículos autônomos ou remotamente controlados para a otimização de logística em meios industriais.
- Monitoria de áreas amplas, por exemplo associada ao uso do que se chama agricultura de precisão.
- Utilização em massa de vídeo e Inteligência Artificial (AI) para a análise em tempo real de processos, monitoramento de contêiners e segurança.
O 5G nasceu com o objetivo de sustentar uma nova conectividade industrial, e um dos pilares da solução – as comunicações confiáveis e de baixa latência – se desenvolveu de maneira praticamente exclusiva em meios industriais.
Como o 5G pode contribuir com o desenvolvimento industrial?
A rede móvel de quinta geração tem importantes contribuições à corrente de valor digital no âmbito industrial, com eficácia comprovada. Há um caso, especialmente singelo de se implementar e que produz benefícios de maneira imediata: a digitalização dos processos de inspeção de qualidade, manutenção e gestão de riscos. “A combinação de 5G e simples óculos de realidade aumentada transformou estes processos. Já não é necessário que pessoal altamente qualificado se desloque até as fábricas; agora basta apenas que um dos funcionários que trabalham habitualmente aí realize a auditoria com o especialista de maneira remota. A economia produzida e os novos tipos de análises que estão sendo realizadas, mudaram de maneira irreversível a atividade industrial, e o farão bem mais quando a conectividade 5G estiver mais estabelecida”, afirma o especialista. Neste caso, os perigos associados à tecnologia estão bem mais controlados que em implantações anteriores, já que é um avanço global. “O fato de que o 5G está destinado a se transformar no sistema nervoso de nossas sociedades faz com que sejamos mais conscientes do que nunca dos problemas de segurança associados. Por isso na Europa e na Espanha existem leis específicas para cibersegurança”, acrescenta.
Sua incorporação a novos serviços no setor é ainda teórica ou incipiente, mas prometedora. “Os casos de uso realmente revolucionários estão por definir-se e resultarão, sem dúvida, da mistura do conhecimento profundo dos processos industriais com o da tecnologia de comunicações e seu potencial transformador”, assegura Joaquín Guerrero. Uma das características inerentes a esta nova conectividade é o dinamismo que contribuirá com a estruturação de processos, o que otimizará inclusive as fases de projeto de infraestruturas. “O planejamento da distribuição de uma planta industrial é um processo longo e complexo que produz um resultado muito rígido: as máquinas estão dispostas em lugares fixos e desta maneira os processos na planta de fabricação ficam ‘petrificados’. Mas agora são concebidas soluções bem mais flexíveis em que toda a planta pode ser reorganizada de maneira quase instantânea mediante a combinação de tecnologias de comunicação sem fio e de veículos autônomos de transporte permanentemente conectados. A partir daí as mudanças nos processos de fabricação podem ser infinitos”, afirma.
Ainda que a digitalização dos processos com apoio do 5G supõe uma oportunidade enorme para o setor industrial, Joaquín Guerrero fala-nos dos dois requerimentos essenciais como um roteiro para que esta tecnologia seja afiançada com sucesso:
- Um conhecimento profundo dos processos industriais a transformar, que só pode vir desde o conhecimento vertical de cada um dos setores, ligado com outras possibilidades disruptivas oferecidas pelo 5G. Só perseverando nesta combinação se conseguiria identificar a aplicação-estrela (killer application) que disparará as implantações de soluções no mundo.
- A criação de um ecossistema articulado entre os diferentes players que devem participar na implantação de tais soluções. “Cada euro investido na criação desse ecossistema poderá ser recuperado com o crescimento”, conclui.
Colaborou neste artigo…
Joaquín Guerrero, engenheiro de Telecomunicações e diretor da consultora Nae. Trabalha na indústria das telecomunicações há 25 anos. Desenvolveu sua carreira profissional como consultor, atuando nos principais grupos da indústria em ambos lados do Atlântico, incluindo Telefónica, Claro, Tigo, Orange, Vodafone, Entel, Más Móvil e muitos outros clientes.
Atualmente é o responsável pelos serviços de “Network” a nível global e seus objetivos incluem criar as conversas que mudarão a indústria das telecomunicações nos próximos meses. Suas áreas de expertise na indústria Telco incluem definição de produtos, desenho e implantação da infraestrutura, transformação TI e os novos modelos de negócio com foco específico em impacto da qualidade e na experiência de cliente.
Joaquín Guerrero é Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Politécnica de Valência. Ele pode ser encontrado no Twitter, e também fala sobre a Telco no podcast Telco Superligero.