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Interconexões garantem o futuro da energia elétrica

A demanda constante de eletricidade pelos consumidores, cada vez mais dependentes desta fonte de energia, torna as redes elétricas um elemento chave para a sociedade e para o desenvolvimento industrial. Por isso, em torno da eletricidade desenvolveu-se um ativo comércio através de um sistema de intercâmbios internacionais, formado por linhas de alta tensão e subestações que permitem a troca transfronteiriça de energia.

Nos últimos anos, os esforços dos países por alcançar acordos para desenvolver interconexões elétricas regionais intensificaram-se, porque proporcionam a geração de sistemas em grande escala e, em consequência, uma otimização dos recursos energéticos. Trata-se de transações reguladas por acordos bilaterais entre Estados e sob a supervisão dos órgãos administradores das redes de transporte de eletricidade das nações envolvidas, que garantem a coordenação na transferência energética e blindam os sistemas perante situações que possam ameaçar a disponibilidade de eletricidade.

Esses intercâmbios possibilitam uma série de vantagens para as nações conectadas:

Garantem a segurança e a continuidade do fornecimento. As interconexões agem como principal e mais imediato sustento em caso de avarias ou outros contratempos que possam impedir o habitual andamento do sistema nacional. Quanto mais malhados e interconectados sejam os mecanismos, mais estáveis eles serão.

Proporcionam maior estabilidade e garantia da frequência. Às vezes, nos sistemas interconectados, as redes de outros países reduzem a distorção do fator de potência nas estruturas nacionais, melhorando a qualidade do fornecimento.

Aumentam a eficiência dos sistemas interconectados. Com a capacidade que fica disponível nas linhas, diariamente são estabelecidas trocas comerciais de eletricidade, para aproveitar as diferenças de preços da energia entre os sistemas elétricos. Além disso, pode-se dar saída aos possíveis excedentes mediante exportações de eletricidade.

– Incrementam a concorrência entre sistemas vizinhos.  A possibilidade de importar energia de outros países obriga os operadores nacionais a elaborar propostas mais competitivas, caso eles desejem que suas ofertas sejam aceitas, gerando uma redução no preço atacadista da eletricidade

Reduzem a dependência de fornecedores únicos. Os intercâmbios internacionais possibilitam aos consumidores finais contar com opções variadas em seu fornecimento elétrico, o que também potencializa a segurança do sistema e o livre mercado.

Proporcionam um melhor aproveitamento das energias renováveis. Diminuem as emissões de gases de efeito estufa devido ao aproveitamento das sinergias entre regiões, aumentando, assim, a flexibilidade do sistema elétrico e permitindo uma maior integração de energias renováveis.

Interconexões, papel chave

Para que cada país alcance todas essas vantagens, é fundamental manter um elevado nível de capacidade de intercâmbio, isto é, atingir o valor máximo de potência elétrica instantânea que é possível importar ou exportar entre dois sistemas elétricos, conservando os critérios de segurança de cada um deles.

Portanto, as interconexões assumem um papel chave na integração dos mercados de energia elétrica. Tanto é assim que, em nosso continente, trabalha-se na criação do Mercado Interior da Eletricidade na Europa (MIE), que busca agrupar o conjunto dos mercados existentes atualmente na União Europeia. Desta forma, a energia poderia fluir livremente entre todos os Estados membros e a convergência de preços poderia ser alcançada.

A União Europeia recomenda que, para 2020, todos os Estados membros alcancem um índice mínimo de interconexão de 10% e de 15%, para o ano 2030.

De fato, segundo os cálculos da Comissão Europeia, se os mercados de energia estivessem completamente integrados, haveria uma redução de preço de pelo menos dois euros por megawatt-hora (MW/h), o que permitiria aos consumidores europeus economizar cerca de 40 bilhões anuais até 2030.

Índice de interconexão de Energia elétrica UE

O caso espanhol

Para conseguir esse objetivo, a União Europeia recomenda que todos os Estados membros atinjam, em 2020, um mínimo de 10% de índice de interconexão e 15% em 2030, sendo este o total das capacidades de importação comparado com a potência de geração instalada. No entanto, a Espanha ainda se encontra muito abaixo do objetivo. Atualmente, o mercado espanhol conta com oito linhas de interconexão elétrica com a França e 11 com Portugal, além do enlace submarino de interconexão elétrica com o Marrocos, alcançando um índice de interconexão com países do resto da Europa inferior a 5% de sua capacidade instalada.

De fato, em 2020, apesar das interconexões previstas, a Espanha será o único país da Europa continental abaixo do objetivo de 10%, por isso será necessário continuar desenvolvendo novas interconexões. Dentre os últimos projetos, é preciso citar o enlace norte com Portugal, entre a Galiza e o Minho português; a implementação de um transformador defasador em Arkale (Oyarzun, Guipúscoa); e o Projeto Baía Biscaia.

Nos próximos anos, o fortalecimento das interconexões representará a máxima prioridade para empreender o desenvolvimento da rede de transporte elétrico. O investimento nessas infraestruturas será todo um desafio e para a implantação completa será necessário cumprir algumas premissas fundamentais, como manter uma estabilidade regulatória e retornos adequados dos investimentos, bem como uma melhoria na aceitação social das instalações.

Nessa linha, no mês de julho foi assinado entre França, Espanha, Portugal e a União Europeia um acordo de financiamento do projeto de interconexão elétrica do Golfo da Biscaia, um cabo submarino que dobrará a capacidade de intercâmbio entre Madri e Paris. O objetivo é até o ano 2025 multiplicar por dois a capacidade de intercâmbio entre a Espanha e França, passando de 2.800 megawatts (MW) atuais para 5.000 megawatts. Juntamente com a criação das duas interconexões através dos Pirineus ocidentais, a capacidade instalada será incrementada em 8%.

Desafios futuros

A aposta pelas interconexões elétricas deve ser clara. Contudo, entre os usos finais da energia, a eletricidade está experimentando um maior potencial de crescimento mundial e sua evolução aumentará, devido a que representará 40% do aumento do consumo final em 2040, segundo as estimações da Agência Internacional da Energia.

Além disso, o mundo acumula uma média de 45 milhões de consumidores novos de eletricidade a cada ano, graças a um maior acesso à energia elétrica, embora não seja suficiente para alcançar o objetivo de universalidade do serviço em 2030. Sem esquecer de que a eletricidade ganha terreno no fornecimento de calor e mobilidade, e continua crescendo em seus âmbitos tradicionais, o que contribui para aumentar sua proporção no consumo final até quase um quarto.

Para atender às suas crescentes demandas, uma potência como a China precisará acrescentar, até 2040, o equivalente atual do sistema elétrico dos Estados Unidos em sua infraestrutura de eletricidade e, no caso da Índia, um número igual ao da União Europeia. Por isso o governo índio está considerando uma proposta para permitir que as nações vizinhas, como o Butão, participem nos intercâmbios de eletricidade nacionais.

Demanda de eletricidade até 2040

A magnitude das futuras demandas de eletricidade ajuda a explicar por que o investimento mundial nesta energia ultrapassou o investimento em petróleo e gás pela primeira vez em 2016, e por que a segurança elétrica está claramente escalando posições entre as prioridades políticas.

Tendo presente essas perspectivas, as interconexões entre países têm de abordar, no futuro imediato, uma série de desafios que respondam às necessidades mais iminentes para o desenvolvimento da rede de transporte de energia elétrica:

– Crescimento da demanda acima do previsto, com sociedades cada vez mais eletrodependentes.

– Infraestruturas de conexão de nova geração, especialmente renováveis, como o projeto “Supergrid”, uma rede de transporte pan-europeia em preparação que facilitará a integração e o transporte da energia renovável em grande escala, com o objetivo de melhorar o mercado europeu.

O futuro do transporte da energia elétrica passa por melhorar a integração das tecnologias digitais e por desenvolver infraestruturas de conexão para as renováveis.

– O uso cada vez maior das tecnologias digitais na economia, que melhora a eficiência e facilita a operação flexível dos sistemas de energia, apesar de que também gera novas vulnerabilidades potenciais que deverão ser consideradas.

– Desenvolvimento de mecanismos de intercâmbio com maior nível de integração, entre regiões com demanda crescente (como a China e a Índia) e com recursos inovadores.

– Aumento da segurança no fornecimento, graças à integração de um amplo leque de energias primárias e tecnologias.

Impacto das interconexõnes nas energias renováveis

As energias renováveis se beneficiam, em grande medida, das interconexões elétricas internacionais para compensar a variabilidade de sua geração, para poder garantir seu fornecimento e manter o equilíbrio de um sistema elétrico, ao estarem submetidas às variações climatológicas.

À medida que aumenta a capacidade de interconexão, maximiza-se o volume total de produção eólica que o sistema é capaz de integrar em condições de segurança, dado que a energia procedente desta fonte e que não tem cabimento no próprio sistema pode ser enviada a outros sistemas vizinhos, ao invés de ser desaproveitada. Ao mesmo tempo, perante a falta de produção renovável ou de problemas na rede, um alto grau de capacidade de intercâmbio permite receber energia de outros países.

De fato, tal como reconhece o relatório World Energy Outlook 2017, elaborado pela Agência Internacional da Energia, as renováveis capturarão dois terços do investimento global em geração de energia até 2040, já que para muitos países se transformaram em fontes de nova geração mais econômica.

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