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Inovação e seguros: transcendendo a tecnologia

A transformação de um setor costuma estar associada ao desenvolvimento tecnológico, mas não é o único fator que a impulsiona: aspectos como liderança, comunicação e gestão de riscos também podem abalar estruturas tradicionais muito enraizadas.

Esta foi a principal conclusão alcançada no painel ‘Reflexões sobre inovação em seguros marítimos’, realizado no XII Congresso Latino-americano de Seguros Marítimos 2024 no Chile. Nesse encontro, termos como IA, blockchain, robótica – geralmente protagonistas em debates sobre inovação – deram lugar a questões mais práticas (mas igualmente essenciais), como a comunicação e a integração de novos talentos.

A palestra, moderada por Gabriel Mysler, CEO da Innovation@Reach, reuniu vários especialistas que exploraram diferentes maneiras de transformar um setor tradicional como o segurador, indo além da simples adoção de novas tecnologias. Participaram do painel Susana Estévez, técnica de Alsum, David Colmenares, Managing Director da Allianz Commercial para a América Latina e Adawall Dias, Diretor Executivo de Produtos e Resseguros da Sompo.

 

Traçando um novo perfil profissional

Uma das premissas compartilhadas por todos os especialistas foi a necessidade de uma mudança na indústria seguradora, não apenas em termos tecnológicos, mas também culturais. Apesar dos inegáveis avanços alcançados nos últimos anos, a diversidade – de gênero e geracional – continua sendo um desafio pendente na América Latina. “A desigualdade salarial e a limitada liderança das mulheres no setor não mudaram”, afirma Colmenares. “Aproximadamente 65% dos funcionários das empresas de seguros na região são mulheres, mas os homens ganham entre 15% e 30% a mais que elas. Além disso, apenas 5% dos CEOs nas empresas Fortune 500 são mulheres”, acrescenta.

Essa resistência à inclusão de novos perfis se repete quando se trata da idade. Colmenares ressalta que muitos veteranos do setor relutam em abrir espaço para jovens talentos e seus conhecimentos: “Procuramos versões reduzidas de nós mesmos, perfis que substituam os especialistas atuais. Queremos continuar fazendo seguros da mesma maneira que fizemos há 250 anos, mas devemos tentar mudar. É curioso: somos uma indústria cujo negócio é aceitar riscos, mas temos medo de correr riscos com as nossas pessoas”, observa.

Dias concorda e afirma que é preciso abrir espaço para “mentes jovens e brilhantes” que levem o setor a novos patamares tecnológicos e de conhecimento. Susana Estévez também apoia esta ideia: “Nesta indústria a experiência é fundamental, mas também é preciso ter uma abertura mental, uma visão de futuro. Devemos nos antecipar aos tempos”, afirma a especialista.

 

Reinvenção de processos e produtos

“Existem dois tipos de profissionais: aqueles que alcançam bons resultados e aqueles que têm boas desculpas. Normalmente, os segundos são bons em PowerPoint, porque precisam apresentar muitos relatórios. Eu quero gerar resultados e, para isso, preciso visitar os clientes, compreender suas necessidades e conhecer sua situação e a dos corretores”, assegura Adailton Dias. Quando entrou na Sompo, no Brasil, em 2015, enfrentou grandes desafios, como o roubo frequente de cargas.

Em vez de complicar as coberturas, optou por implementar ferramentas colaborativas de gestão de riscos e se associar a outras empresas do setor. “Quando as companhias de gestão de riscos entenderam que não queríamos ficar com sua parte do mercado, mas atender a uma necessidade maior, a do cliente, a iniciativa deu certo. O que me frustra é ver, por exemplo, como um portfólio menos sofisticado, como o de automóveis, gera receitas em um país com 40 bilhões de dólares em prêmios, enquanto que nossos produtos, mais importantes, que combinam logística, comércio exterior e outros aspectos relevantes, não têm o mesmo sucesso”, assevera.

 

O poder da comunicação

Todos os especialistas do painel concordaram que, embora nenhum deles tenha tido vocação clara para o setor de seguros na juventude – geralmente chegaram à área por acaso -, hoje se sentem orgulhosos de fazer parte dele. “Somos o maior instrumento de resiliência econômica, social e financeira que existe atualmente no mundo, mas ainda caímos na autocomplacência”, afirma Colmenares. Nesse sentido, Estévez compartilhou um exemplo de como uma pequena mudança de linguagem teve grande impacto na gestão de um negócio. Há 20 anos, quando o setor buscava atrair o mercado de pequenas embarcações, foi proposto adaptar a comunicação ao público-alvo, que era formado por proprietários individuais: “Apesar da cobertura ser ampla, o diferencial do produto era como ele era descrito: sem letras miúdas, sem zonas cinzentas e com uma linguagem coloquial”, explica.

O contrato não usava termos técnicos como “segurado” ou “partes”, mas sim “você” e “nós”. As cláusulas eram claras, diretas, sem jargões do setor. Apesar do sucesso, a especialista reconhece que teve que lutar muito para retomar essa simplicidade na linguagem. Após sua fala, Mysler elogiou a ideia de “colocar-se no lugar do cliente e entender quando é preciso ser técnico e quando é necessário ser claro e direto”. Colmenares também destacou a importância de dar uma nova voz à indústria de seguros em geral, e ao setor marítimo em particular: “Precisamos de pessoas que nos ajudem a mudar. Acho essencial mudar a forma como nos comunicamos, falar de maneira simples, apresentar uma visão forte e mostrar ao mundo o quão incrível é o setor em que trabalhamos. Precisamos conquistar corações, não apenas cabeças”, concluiu.

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