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Hyperloop, o futuro da mobilidade

Faltam poucos anos para que a irrupção de um novo modelo de mobilidade não somente revolucione a indústria do transporte, mas toda a sociedade: o Hyperloop, um sistema de alta velocidade de baixo consumo energético e livre de emissões diretas. Trabalhará de maneira autônoma e implementará a tecnologia mais inovadora, encurtando distâncias de forma espetacular para conectar cidades e centros logísticos em questão de minutos.

Foi em 2013 que Elon Musk, fundador de SpaceX e Tesla, popularizou a ideia do Hyperloop como veículo baseado em cápsulas flutuantes que poderia alcançar 1.200 km/h (quase a velocidade do som) e levitar a baixa pressão, através de uma rede de tubos de aço, que podem ser colocados na terra, elevados em pilares ou serem subterrâneos.

Quando Musk fez o anúncio, divulgou o conteúdo e as tecnologias de seu projeto, mas enfatizou que a considerava uma iniciativa aberta à participação de quem estiver interessado em seu desenvolvimento. É por esse motivo que atualmente existem diferentes iniciativas implementadas no mundo, como as norte-americanas Virgin Hyperloop One e Hyperloop Transportation Technologies (HyperloopTT), Hardt Hyperloop, estabelecida nos Países Baixos, a canadense TransPod, ou a espanhola Zeleros, surgida de uma equipe de estudantes da Universidade Politécnica de Valência que venceram a competição promovida por Musk com o melhor design de um protótipo de Hyperloop.

“Hoje em dia, as empresas desenvolvedoras se encontram em fase de validação tecnológica em escala. Após esses ensaios, que acontecerão entre os próximos 2 ou 3 anos, será possível contar com conhecimento suficiente sobre o estado da arte para selecionar as tecnologias mais escaláveis e sustentáveis, e realizar ensaios em escala real”, explica Juan Vicén, cofundador e CMO de Zeleros, quem acredita que a partir de 2025 os primeiros desenvolvimentos para mercadorias poderão ser vistos e a partir de 2027 para pessoas. E ainda assinala: “O avanço tecnológico, o investimento conquistado e o apoio institucional e regulamentar poderão acelerar esses processos”.

 

Integração de sistemas

Colocar em prática um projeto tão inovador requer da implementação de inúmeras tecnologias combinadas de maneira eficaz e segura. Como menciona Vicén, o Hyperloop se beneficia dos avanços tecnológicos de outras indústrias, como o setor ferroviário, por se tratar de um transporte guiado, da aeronáutica, já que operará em velocidades e pressões semelhantes a dos aviões, e “do uso de sistemas magnéticos para levitação e propulsão”, que o torna parecido aos trens de levitação magnética que já operam no mundo.

Além disso, emprega ferramentas de automatização para conectar diferentes cápsulas entre si e com o sistema de controle em tempo real. “Por sua vez, as potências utilizadas também transformam os sistemas de armazenamento, geração e contribuição energética em um tema chave”, assevera.

Em referência ao nível de infraestruturas, destaca que é necessário contar com sistemas de evacuação de ar e manutenção da pressão em níveis ótimos. Sem esquecer dos mecanismos de controle e comunicações, para saber onde se encontram as cápsulas a cada momento e poder reagir de forma precisa perante qualquer incidente.

De fato, segundo Vicén, o maior desafio apresentado por esse tipo de projetos é, precisamente, a integração dos sistemas, “porque todos funcionam a nível comercial em diferentes setores, mas nunca foram testados em conjunto”. Daí a relevância de realizar testes em escala, para medir rigorosamente a sustentabilidade do sistema a nível econômico, energético e social.

 

El Hyperloop permitirá el transporte sostenible y competitivo, conectando grandes núcleos operativos en cuestión de minutos.

Nessa linha, uma rede de centros de pesquisa Hyperloop já se encontra nas etapas de planejamento e estima-se o início de suas operações para os próximos anos na França, Polônia, Espanha e Países Baixos. Nessas regiões, onde operam diferentes empresas desenvolvedoras do projeto, atuarão como locais de pesquisa para testar e validar tecnologias e padrões.

Do que não restam dúvidas é de que o Hyperloop “deve ser concebido como um sistema global que possa ultrapassar fronteiras e, nesse sentido, a interoperabilidade assume um papel relevante, entendida como a capacidade de interligar sistemas Hyperloop com outros da maneira mais ágil e simples possível”, afirma o CMO de Zeleros.

 

A revolução na mobilidade

Todos esses avanços representarão uma revolução na mobilidade das mercadorias e dos passageiros no futuro, já que o Hyperloop permitirá o transporte sustentável com a possibilidade de conseguir “reduzir cerca de 30 milhões de toneladas de gases de efeito estufa somente na Europa”. Além disso, será competitivo no relativo ao nível de tempo para distâncias entre 500 e 1.500 km, ao conectar grandes núcleos operacionais em questão de minutos e permitindo “uma rede europeia de Hyperloop que propiciaria uma economia aproximada de 75 milhões de horas, com impacto econômico aproximado de 1,6 bilhões de euros.”

Em qualquer caso, as oportunidades profissionais seriam ampliadas, já que a coesão de territórios permitiria residir em um país e trabalhar em outro. “Será como uma rede de metrô a nível internacional”, admite Juan Vicén, e que também melhorará os processos logísticos, incrementará a conectividade e fortalecerá os tecidos industriais dos países.

Apesar de que toda a economia global enxergará os benefícios deste novo sistema de transporte, uma série de indústrias receberão os principais impactos da implementação, segundo confirma Zeleros:

Ferroviária. Permitirá melhorar a competitividade dos sistemas de transporte terrestre para distâncias onde o trem não pode ser competitivo em velocidades. Assim, poderão integrar consórcios de rotas terrestres rentáveis, em que antes não podiam justificar sua construção.

Infraestruturas. Este setor poderá expandir suas linhas de negócio. Na rede de estradas e nas redes ferroviárias e aeronáuticas, agora será adicionada uma nova necessidade de infraestrutura e de estações de Hyperloop, que exigirão uma série de desenvolvimentos.

Aeronáutica. Com o sucesso dos sistemas que aproveitam as tecnologias aeronáuticas com pressões similares, o benefício estará na redução das emissões para as rotas mais ineficientes, sem a necessidade de diminuir as capacidades produtivas.

Próximos passos

O Hyperloop é um veículo baseado em cápsulas flutuantes que poderia alcançar 1.200 km/h e levitar através de uma rede de tubos de aço a baixa pressão.

Apesar dos evidentes benefícios que originará a implementação do Hyperloop, os diferentes projetos devem abordar uma série de desafios para sua eficaz implantação nos próximos anos. Está pendente a definição de um órgão regulatório, como já existe na aeronáutica ou no setor ferroviário. “Contudo, desde 2018 há um grupo de trabalho sobre esse tema que já está tratando, junto às empresas promotoras do Hyperloop e às agências regulatórias europeias (ERA, EASA), como avançar nessa direção”, comenta esperançado Juan Vicén, e acrescenta que é algo “muito positivo, pois permite acelerar os processos de regulação paralelamente com a validação tecnológica”.

Outro dos grandes desafios que estão sendo abordados é o relacionado com a segurança do transporte, cujos riscos variam em função das propostas e, mais concretamente, ao nível de pressões em que o sistema opera. “Por exemplo, os tempos de reação são maiores em níveis de pressão mais semelhantes na aeronáutica do que em níveis de pressão espaciais”, assegura Vicén, e precisa que todos os mecanismos estão sendo projetados com os maiores padrões possíveis e redundância de sistemas, para serem à prova de falhas. “Isso significa levar vários sistemas que possam atuar perante qualquer situação de emergência, garantindo em todo momento a segurança dos passageiros e das mercadorias”, confirma.

Além disso, criou-se recentemente um Comitê de Padronização do Hyperloop, a primeira iniciativa no mundo, liderada pela Espanha, para o desenvolvimento de padrões nos sistemas Hyperloop que foi impulsionada pela Associação Espanhola de Normalização (UNE) em colaboração com o NEN, órgão de normalização dos Países Baixos. “O objetivo é melhorar a segurança, interoperabilidade e sustentabilidade do sistema, e aprender dos erros do passado que, como a largura da via ferroviária, já tantos custos causaram”, destaca o cofundador de Zeleros. Desta forma, será possível evitar questões como as incompatibilidades que dificultam a circulação entre os países da União Europeia. Além disso, a padronização imporá requisitos e formas de avaliação de cumprimento, para garantir o transporte seguro das pessoas e mercadorias.

Em matéria de financiamento, hoje em dia já estão comprometidos mais de 300 milhões de euros a nível privado no desenvolvimento do Hyperloop e existem bastantes países que anunciaram a realização da análise de viabilidade. Além disso, a Comissão Europeia destinou um primeiro pacote de apoio, graças à iniciativa público-privada Shift2Rail, para a detecção de sinergias e oportunidades junto ao setor ferroviário.

De fato, o aspecto financeiro não parece ser um empecilho já que o apoio econômico, tanto de empresas quanto de instituições públicas, crescerá notadamente nos próximos anos. Allied Market Research estima que, em 2022, o mercado em torno dos projetos do Hyperloop movimentará 1.350 milhões de dólares e alcançará 6.000 milhões em 2026.

Protótipo de cápsula de passageiros do Hyperloop

Fonte: Hyperloop Preliminary Design Study Technical Section, de SpaceX

 

Colaborou na elaboração desta matéria…

Juan Vicén é cofundador e CMO em Zeleros, empresa espanhola que lidera o desenvolvimento de um sistema de transporte tipo Hyperloop na Europa. Formou-se em Engenharia Industrial pela Universidade Politécnica de Valência e obteve seu Mestrado de Design Industrial na Universidade Técnica de Munique. Ali foi reconhecido por seu design de um sensor de qualidade do ar de baixo custo para cidades (Hawa Dawa) e, posteriormente, conseguiu junto com sua equipe o reconhecimento de SpaceX (empresa de Elon Musk), como melhor conceito de Hyperloop nos Estados Unidos (2016). Agora, em Zeleros, ele deseja demonstrar a escalabilidade de seu sistema Hyperloop para conectar países em questão de minutos e de forma sustentável.

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