As tecnologias de observação remota são ferramentas básicas para coletar informações precisas em tempo real, facilitando a coordenação eficiente de resgates e assistências. A combinação de recursos permite compreender a magnitude e o impacto das catástrofes. A avaliação de danos após um desastre natural é uma das tarefas mais críticas na gestão de emergências. Esse processo, essencial para organizar esforços de socorro, ajuda humanitária e reconstrução, requer equipes capazes de garantir uma coleta rápida e detalhada de informações. Neste contexto, os satélites e drones se consolidaram como soluções eficazes, proporcionando uma perspectiva completa e precisa das áreas afetadas. Nos últimos anos, essas tecnologias evoluíram, oferecendo capacidades complementares que melhoram a qualidade dos dados obtidos e aceleram a tomada de decisões.
Satélites: um olhar global
Localizados na órbita terrestre, os satélites proporcionam uma visão ampla e contínua das superfícies impactadas, permitindo monitorar eventos de grande escala, como furacões, terremotos, inundações ou incêndios florestais. Equipados com sensores avançados, capturam imagens de grandes áreas, possibilitando análises rápidas, inclusive em áreas remotas ou inacessíveis.
Programas como Copernicus, da União Europeia, demonstraram como os satélites podem fornecer dados abertos e acessíveis para responder a catástrofes naturais. Por exemplo, durante as enchentes da Líbia em 2023, o sistema Sentinel, fornecido com radares de abertura sintética (SAR), delimitou as áreas inundadas, detectou comunidades isoladas e avaliou os danos a infraestruturas, inclusive sob condições meteorológicas adversas. Os SAR podem gerar imagens de alta resolução que atravessam nuvens, fumaça e vegetação, facilitando a análise de impactos estruturais e alterações topográficas.
Além disso, os satélites capturam imagens multiespectrais e hiperespectrais, que possibilitam identificar impactos invisíveis ao olho humano, como o estresse hídrico em culturas, as alterações químicas em corpos de água e a degradação de materiais de construção. Sua capacidade de observação periódica garante a supervisão contínua de fenômenos dinâmicos, otimizando a gestão de emergências e o planejamento de respostas.
Uma das inovações mais recentes é o uso de satélites de radar para medir deslocamentos na crosta terrestre depois de um terremoto. Isto foi essencial nos terremotos da Turquia e da Síria de 2023, onde as imagens SAR interferométricas (InSAR) permitiram cartografar com precisão os movimentos tectônicos, ajudando a avaliar riscos adicionais.
Drones: agilidade e precisão no terreno
Enquanto os satélites oferecem uma cobertura global, os drones complementam seu alcance ao proporcionar uma visão detalhada a nível do solo. Sua capacidade de voar a baixa altitude permite acessar áreas específicas com precisão milimétrica. Equipados com sensores multiespectrais, câmeras de alta resolução e térmicas, posicionam-se como ferramentas versáteis para examinar infraestruturas e monitorar áreas afetadas em tempo real.
Em situações de emergência, os drones utilizam tecnologias como o Radar de Penetração Terrestre (GPR), capaz de detectar pessoas presas sob escombros ou identificar cavidades após deslizamentos de terra. Nos terremotos da Turquia e da Síria, desempenharam um papel crucial ao determinar os danos em áreas urbanas, identificar áreas críticas para resgates e transportar suprimentos.
Além das missões de resgate, os drones também são empregados na gestão de riscos a longo prazo. No Japão, por exemplo, foram utilizados para monitorar vulcões ativos, capturando imagens e dados que ajudam a prever erupções e reduzir o impacto nas comunidades próximas. Também são úteis para avaliar a erosão costeira após um tsunami, proporcionando informações essenciais para a construção de barreiras de proteção.
Integração de tecnologias avançadas
A integração da Inteligência Artificial (IA) e do aprendizado de máquina na avaliação de danos transformou a maneira como os dados coletados por drones e satélites são processados e analisados. Os algoritmos de segmentação de imagens podem identificar automaticamente áreas relacionadas, diferenciando entre áreas urbanas, vegetação e corpos de água. A IA preditiva também modela a evolução dos desastres, como a propagação de incêndios florestais ou a trajetória de furacões, otimizando esforços de evacuação.
Durante os incêndios na Austrália em 2019, modelos de aprendizagem profunda (Deep Learning) classificaram rapidamente as áreas danificadas, ajudando a priorizar recursos de socorro. Este enfoque não só conseguiu localizar perdas, mas também antecipar áreas em risco e mitigar ameaças futuras.
A combinação de IA com drones e satélites também abriu novas possibilidades para a reconstrução após um desastre. Por exemplo, no Haiti, após o terremoto de 2021, foram empregados algoritmos de aprendizagem automática para analisar imagens aéreas e priorizar a reconstrução de infraestruturas essenciais, como hospitais e estradas. Isso acelerou significativamente os processos de planejamento e execução.
O futuro da avaliação de desastres
A avaliação de danos continua a avançar com a melhoria das tecnologias de teledetecção e a capacidade dos satélites. Os satélites de nova geração, como os do sistema WorldView Legion e os satélites radar de Capella Space, estão otimizando a resolução e a frequência das imagens, o que facilita a inspeção precisa das áreas afetadas em tempo real, inclusive em condições extremas.
Embora constelações como OneWeb e Starlink não foram projetados especificamente para observação remota, seus satélites estão melhorando a conectividade global, um fator crucial em regiões onde os eventos meteorológicos destruíram a infraestrutura terrestre. Estes sistemas permitem a transmissão rápida de dados e o acesso remoto a informação crítica em tempo real, completando eficazmente os esforços de resposta e coordenação em situações de emergência.
Além disso, a integração de drones autônomos e sensores IoT promete uma compilação de dados ainda mais eficiente no futuro, permitindo um rastreamento contínuo das áreas prejudicadas e melhorando a capacidade de resposta.
A sinergia entre satélites, drones e tecnologias avançadas como a Inteligência Artificial estabelecerá as bases para criar sistemas de resposta mais ágeis e inteligentes, capazes de prever fenômenos como terremotos, inundações e incêndios florestais, e proporcionando às comunidades a informação necessária para se preparar e mitigar os efeitos destas catástrofes.