“Ásia – Costa Leste da América do Sul” é a sexta rota marítima mundial por volume de contêineres mobilizados. As conexões entre continentes contam com catorze serviços diretos entre os principais portos de ambas regiões, apesar de que ainda há muito caminho a percorrer.
Desde que a expedição de Fernando de Magalhães e Juan Sebastián Elcano conseguiu dar a volta ao mundo de barco entre 1519 e 1522, há um ponto que deixa os comerciantes e governos de todo o mundo obcecados: otimizar as rotas marítimas para buscar a máxima eficiência no comércio mundial. Durante séculos, impérios e nações navegaram pelo globo transformando os oceanos em verdadeiras rodovias de mercadorias. Atualmente, o transporte marítimo funciona como uma gigantesca rede com rotas ou linhas estabelecidas, escalas e transbordos, a partir dos quais qualquer mercadoria pode ser enviada de um ponto a outro da Terra.
Segundo dados do ranking elaborado pelo Conselho Mundial de Transporte Marítimo (World Shipping Council, WSC), a associação mundial que reúne os principais operadores de carga marítima do mundo:
- A rota “Ásia – América do Norte” é a primeira em volume transportado com 26,57 milhões de TEUs (contêineres de 20 pés, unidade de medida habitual no transporte marítimo) movimentados.
- “Ásia – Norte da Europa” teve movimentação de 15,06 milhões de TEUs.
- “Ásia – Mediterrâneo”, 7,91 milhões de TEUs.
- “Ásia – Oriente Médio”, com 7,74 milhões, ocupa o quarto lugar.
- Em quinto lugar, está “Norte da Europa América do Norte”, com 5,40 milhões.
- Em sexta posição encontra-se a rota “Ásia – Costa Leste da América do Sul” com 2,07 milhões de TEU.
É precisamente essa última que, por seu enorme potencial e capacidade de desenvolvimento, suscitou o interesse da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), órgão subordinado à ONU que elaborou um recente relatório sobre “Conexões de carga marítima entre Ásia e Pacífico e América Latina”, onde analisa as principais conexões marítimas de contêineres e os desafios que devem ser enfrentados nas rotas entre ambos os continentes.
Modelo de negócios “colonial”
O estudo da CEPAL concentra-se nas relações comerciais marítimas bilaterais dos países mais ativos em ambos os continentes nos últimos cinco anos, destacando China, Japão, Coreia do Sul e Austrália (pelo lado da Ásia-Pacífico) e Argentina, Brasil, Colômbia e Peru (pela América Latina). É importante ressaltar que, apesar de haver diferenças, existem traços comuns entre todos eles. Os asiáticos, por exemplo, exportam principalmente manufaturas, com especial importância de produtos eletrônicos e tecnológicos. Enquanto isso, as exportações latino-americanas concentram-se principalmente em matérias-primas e produtos agrícolas.
Trata-se de um setor com uma oferta muito concentrada, no qual os sete primeiros operadores de carga marítima do mundo concentram 75,7% de participação no mercado
A relação atual entre essas regiões se assemelha muito ao período colonial entre as Américas e a Europa, onde as metrópoles importavam matérias-primas que transformavam e processavam para depois revender em forma de manufaturas de maior valor agregado às próprias colônias. Isso gerava, então, a favor do velho continente – e gera hoje a favor dos países asiáticos – uma balança comercial descompensada que, com o mesmo volume de carga exportada, tem um faturamento muito maior pelo tipo de produto vendido.
Outra das particularidades que marcam essas relações é a própria natureza do transporte marítimo mundial. Trata-se de um setor com uma oferta muito concentrada, no qual os sete primeiros operadores de carga marítima do mundo concentram 75,7% de participação no mercado e são quem decidem que tipo de rotas conectam os principais portos em cada continente. Além dessa situação, existe também outro elemento chave: os chokepoints, estreitos pelos quais circula uma grande quantidade de mercadorias e que se convertem em gargalos para o comércio mundial, como o Canal de Suez, o Estreito de Malaca e o Canal do Panamá. Com estas circunstâncias e condicionantes, a Ásia e a América Latina estão conectadas atualmente por catorze serviços diretos: quatro desde portos asiáticos até portos da Costa Leste da América Latina (que concentram o maior tráfego de mercadorias) e dez até a Costa Oeste sul-americana, pelo Pacífico.
Desafios e caminho a seguir
Ainda é uma quantidade de serviços diretos e um volume de mercadorias muito baixo em relação ao seu potencial, considerando-se que a população das regiões que unem essas rotas é mais de 1,5 bilhão de pessoas. Isso se deve principalmente a uma deficiente rede de infraestruturas na América Latina, cujo principal desafio é melhorar as instalações portuárias e, sobretudo, as infraestruturas logísticas no hinterland —zona atrás dos portos— de escalas e destinos. São especialmente importantes os serviços do local de origem, transporte do local para o porto, serviços de porto de origem, serviços de porto de destino, transporte do local de destino e serviços de local de destino. As infraestruturas logísticas incluem as ferrovias, rios, estradas e as interligações que as vinculam, como os portos, aeroportos, plataformas logísticas e pontos fronteiriços.
A Ásia e a América Latina estão conectadas atualmente por catorze serviços diretos
Questões pendentes nas Américas
Outro desafio é melhorar a burocracia e a legislação em ambos os lados destas “estradas marítimas”, já que são muito restritas no caso dos países asiáticos e pouco confiáveis no extremo latino-americano. Os tempos de espera e a otimização da gestão aduaneira são outro ponto importante a considerar na redução dos custos de comercialização e, assim, no aumento do volume de transações. Assim, o estudo da CEPAL também coleta uma amostragem de entrevistas a comerciantes e operadores logísticos, que concordam em apontar como caminhos a seguir, entre outros:
- A digitalização em todos os trechos da cadeia, fundamentalmente nos processos aduaneiros.
- O desenvolvimento das vias fluviais para o transporte de mercadorias na América Latina, como alternativa mais barata e sustentável do que as estradas.
- A necessidade de estabelecer serviços diretos com portos do Sudeste Asiático, que atualmente só podem ser alcançados fazendo escala.
Em suma, o grande desafio para aumentar a capacidade de troca de mercadorias das rotas marítimas entre Ásia-Pacífico e América Latina passa pela melhoria dos modelos de comercialização entre os envolvidos, a criação de confiança e previsibilidade nas transações e o desenvolvimento de políticas por parte dos países para o planejamento de infraestruturas em longo prazo tanto portuárias como no hinterland.
Se você achou interessante, continue lendo… Mobilidade elétrica: garantia da transição energética no México