Com o propósito de lutar contra a mudança climática, os países da América Latina estão tentando criar garantias de sustentabilidade em todos os setores. A construção, por seu impacto ambiental e contribuição para o desenvolvimento econômico da região, é um objetivo essencial.
Entre as múltiplas iniciativas que estão sendo realizadas em escala nacional, abordamos o projeto internacional CEELA. O objetivo é capacitar e assessorar os profissionais da América Latina na promoção de edificações com eficiência energética, conforto adaptativo e poucas ou zero emissões de CO2, especialmente em zonas climáticas quentes como Colômbia, Equador e Peru. Com sua equipe técnica, Johana Infante, especialista em construção sustentável, nos lembra que, no mundo todo, a construção representa aproximadamente 39% das emissões de CO2. Essa é uma das principais causas do aquecimento global. “A previsão é que exista um aumento de emissões no setor nos próximos anos, associados principalmente ao aumento no consumo de energia final nos edifícios e especialmente no uso da eletricidade”, afirma.
No caso da América Latina, a construção representa 21% das emissões operacionais de CO2. Elas estão associadas ao consumo de eletricidade e gás natural, representando cerca de 50% do consumo total. “Para reduzir as emissões, as medidas mais relevantes são conseguir uma matriz elétrica baixa em emissões, eficiência no projeto de edifícios e autogeração de eletricidade nos edifícios”, adverte, junto com o uso de sistemas de energia renovável nos edifícios, como sistemas fotovoltaicos ou sistemas solares térmicos. Nesse sentido, o Projeto CEELA publicou um guia completo de recomendações e critérios. É um ponto de partida para conhecer os vários aspectos a serem considerados e os termos de referência padronizados para a região.
Elementos necessários da transformação
O projeto CEELA definiu uma lista de princípios, que em conjunto permitem projetar, implementar e, depois, operar edifícios com alta eficiência energética e conforto adaptativo (EECA). Esses seriam:
• Princípios de Projeto e Construção. Medidas que são principalmente de projeto passivo ou bioclimático, e de planejamento.
• Princípios técnicos. Estratégias com sistemas ativos, seja como fornecimento de climatização ou iluminação, ou como autogeração de energia no edifício.
Como explica a especialista, a execução desses critérios “exige que sejam levados em consideração diversos aspectos em todas as fases do projeto. Esse projeto integrado é uma estratégia que tem amplas vantagens ao ser implementado, desde as fases iniciais do projeto, já que procura otimizar a eficiência energética e o conforto térmico de maneira conjunta entre parâmetros de arquitetura e engenharia”, além de permitir a verificação da viabilidade técnica, econômica e cultural da construção desde as fases iniciais.
Valorização do setor local
Johana Infante destaca que o princípio de incorporação que seu projeto estimula refere-se à variedade incorporada, “aquela utilizada para os materiais, produtos e trabalhos de construção e desconstrução” em todas as fases da construção. “Uma estratégia de otimização bem pensada em relação à energia incorporada ajuda a mitigar a crescente escassez de materiais na indústria da construção”, assinala. Para isso, é preferível “o uso de materiais de origem local. Materiais reciclados e materiais com alta capacidade de reciclagem devem ser priorizados. Além disso, será considerada a redução no uso de materiais como concreto ou aço, conforme os alinhamentos do projeto estrutural e os processos construtivos locais o permitam”, afirma.
O projeto CEELA promove o desenvolvimento da construção sustentável ao projetar edifícios modelo responsáveis com o meio ambiente e comprometidos com o bem-estar das pessoas. Uma das iniciativas realizadas foi o conjunto residencial DAMMAR. Uma habitação social localizada na cidade de Cartagena (Colômbia) que incorpora ventilação natural e destaca o controle da radiação solar direta. Também foram realizadas edificações acadêmicas em Nazca (Peru) e Cuenca (Equador). “Todos os edifícios modelo serão monitorados após a etapa de construção, onde será medida e analisada a eficiência, as energias renováveis e o conforto de cada projeto com um sistema de monitoramento baseado em sensores de parâmetros ambientais e energéticos, armazenamento e visualização de dados”, realça a especialista. Além disso, realiza-se um sistema de pesquisa com os usuários e uma avaliação das faturas de energia elétrica e os parâmetros ambientais.
Energia renovável e gestão de água responsável
O mercado de energia renovável chegou a ter uma paridade comercial com outras formas de energia convencionais e com o Projeto CEELA destaca-se a energia solar como uma das alternativas mais viáveis em termos técnicos e econômicos. “Nossa atenção está no uso de superfícies adequadas com energia solar fotovoltaica, já que a demanda de climatização (alimentada por energia elétrica) costuma coincidir precisamente com a maior oferta de energia solar. Os coletores solares térmicos são úteis para a geração de água quente. Em áreas mais quentes, os coletores solares térmicos podem atender à baixa demanda de água quente (chuveiro, lavagens)”, afirma.
Outro aspecto fundamental da sustentabilidade é o uso responsável da água, estabelecendo diretrizes que incluam “informações sobre o dimensionamento e a seleção dos dispositivos e acessórios de economia de água (por exemplo, a capacidade do reservatório do WC, o limitador de saída, etc.) e o consumo de água previsto para um uso padrão”, conclui.
Tem colaborado neste artigo:
Johana Infante , arquiteta graduada pela Universidade Católica da Colômbia, com Mestrado em edificação sustentável na especialidade de auditoria e certificação energética da edificação pela Universidade da Corunha, Espanha. Faz parte da equipe do Projeto CEELA, iniciativa de cooperação internacional, como coordenadora técnica na implementação dos edifícios modelo e no eixo regulamentar para a construção da edificação com princípios de eficiência energética e conforto adaptativo.