Embora o setor de mineração seja visto como tradicional, a verdade é que, nos últimos anos, ele passou por uma grande transformação graças à inovação e ao fortalecimento de tecnologias que reduzem seu impacto negativo no meio ambiente e fomentam o uso eficiente de recursos.
A indústria de mineração é tradicionalmente criticada pelo seu impacto negativo no meio ambiente e nas comunidades próximas das suas operações. No entanto, nos últimos anos, o setor está se tornando cada vez mais sustentável, reduzindo a carga ambiental e melhorando as condições dos trabalhadores. Para falar sobre isso, entrevistamos dois especialistas da PwC no Chile: Andrés Sanín, Diretor de Recursos Naturais, e Nicolás Westenenk, Gerente de Sustentabilidade e Mudança Climática.
Ambos nos explicam a importância do desenvolvimento tecnológico com a adoção da inteligência artificial (AI), a automação e o uso de energias renováveis, além da implementação de práticas mais responsáveis na gestão de resíduos como o uso da mineração subterrânea, cada vez mais popular, e a restauração da paisagem após a exploração, com programas de reflorestamento e reabilitação de solos.
“Outra abordagem é a utilização de técnicas inovadoras para a extração de minerais de resíduos, como a biolixiviação”
A importância da economia circular
Esse modelo de produção é baseado na redução do desperdício e na promoção do uso eficiente de recursos naturais, e pode ser aplicado em vários setores. No campo da mineração, por ser uma atividade extrativa de matérias-primas, esse modelo reduz significativamente os impactos negativos no meio ambiente. Os materiais usados na construção podem ser reutilizados para reativar as áreas após a exploração, por exemplo, utilizando a terra e a rocha extraída durante a obra para preencher as áreas escavadas e nivelar o terreno no final do projeto.
“Outra abordagem é a utilização de técnicas inovadoras para a extração de minerais de resíduos, como a biolixiviação, que utiliza microrganismos para separar metais valiosos dos resíduos. Isso permite reduzir a quantidade de resíduos que são enviados para os aterros sanitários, ajuda a preservar os recursos naturais e contamina muito menos, pois não usa produtos químicos tóxicos na extração”, asseguram os especialistas da PwC.
72% da superfície chilena sofre de seca em algum grau e este dano se replica em muitos outros territórios do planeta
Além desta técnica, o especialista destaca como outras empresas estão utilizando fontes de energia renováveis, como a solar ou a eólica, para alimentar suas operações, bem como a incorporação de práticas de gestão de resíduos mais sustentáveis. Isso também inclui a reutilização de materiais e a reciclagem de água, um aspecto essencial nesta transição, já que 72% da superfície chilena sofre de seca em algum grau e este dano se replica em muitos outros territórios do planeta.
Os especialistas fazem referência ao artigo ‘Mining our Green Future’ de Richard Herrington, publicado na revista Nature em 2021. O artigo explica a relação entre a mineração e as energias verdes, colocando como exemplo que, para a produção de baterias, é necessária a extração de matérias-primas como o lítio. Portanto, à medida que a transição para fontes renováveis se acelera, a demanda por minerais aumenta significativamente, sendo mais do que urgente implementar uma economia circular neste campo.
O caso da mineração chilena
No Chile, a indústria mineradora é uma parte vital da economia, representando 10% do PIB do país e mais de 50% de suas exportações, sobretudo de cobre. Nos últimos anos, o governo implementou regulamentações para promover a sustentabilidade, como a ‘Lei de Fechamento de Atividades e Instalações Mineradoras e a Política Nacional Mineira’, que busca a carbono-neutralidade até 2040. As empresas se concentraram em reduzir a poluição, usar melhor os recursos disponíveis e não desperdiçar água.
Também existem desafios a longo prazo, como a restauração dos terrenos onde operaram e a situação futura dos rejeitos mineiros
Os especialistas da PwC nos apresentam algumas das iniciativas mais relevantes do país nos últimos anos: o plano de carbono neutro da Codelco até 2050, em que uma dessas ações consiste em atingir 100% de eletromobilidade em minas subterrâneas; projeto-piloto de hidrogênio verde na mineradora Spence da BHP Chile, que procura substituir o diesel e o gás natural por hidrogênio verde; e os Pelambres da Antofagasta Minerals, onde já se passou de combustíveis fósseis para energias 100% renováveis para o fornecimento elétrico.
Além disso, os especialistas destacam os principais desafios que a mineração enfrenta para conseguir ser mais sustentável, como o acesso às tecnologias, o aumento dos custos associados a este tipo de práticas e a necessidade de envolver todas as partes interessadas nos processos. Também existem desafios a longo prazo, como a restauração dos terrenos onde operaram e a situação futura dos rejeitos mineiros, resíduos que restam após o processamento dos minerais e que representam um grande risco ambiental.
“Em resumo, a mineração sustentável no Chile está se desenvolvendo por meio de políticas e regulamentos do governo, bem como de iniciativas e práticas sustentáveis implementadas pelas empresas. O foco principal está na eficiência energética, na redução de emissões de gases do efeito estufa e na gestão da água”, concluem da companhia chilena.
Colaboraram neste artigo:
Nicolás Westenenk, gerente de sustentabilidade e mudança climática da PwC Chile.
Tem mais de 15 anos de experiência em energia e mudança climática, onde liderou importantes projetos de apoio à elaboração de política pública, incluindo a Lei de Mudança Climática, a de Eficiência Energética ou a de Responsabilidade Estendida do Produtor.
Andrés Sanín, diretor de recursos naturais e excelência digital da PwC Chile.
Ele tem mais de 17 anos de experiência, especializado na entrega de soluções para melhorar a transformação organizacional e digital. Dedica-se à gestão de portfólios, programas e projetos maiores para uma grande variedade de indústrias.
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