Inicio > Revista Gerência de Riscos e Seguros > Estudos > Como se protege o mundo dos desastres naturais?
DDNN

Como se protege o mundo dos desastres naturais?

Os eventos catastróficos extremos, intensificados pela mudança climática, representam uma ameaça crescente para comunidades de todo o mundo. Países como o Japão têm desenvolvido soluções inovadoras que traçam o caminho para um futuro mais seguro e resiliente.

Terremotos, furacões, chuvas torrenciais e fenômenos similares geram perdas devastadoras que muitas vezes superam a capacidade de resposta das regiões afetadas. Diante desta realidade, a antecipação e a organização proativa tornam-se essenciais para minimizar riscos e proteger vidas.

O Japão, situado em uma das áreas mais vulneráveis do mundo, tornou-se uma referência ao implementar medidas que combinam tecnologia, infraestrutura e educação. Estas iniciativas não só beneficiam diretamente suas comunidades, mas também servem de inspiração para outros países, motivando-os a reforçar sua capacidade de adaptação diante dos desafios da mudança climática

 

Tecnologia como primeiro escudo

O Japão transformou a tecnologia em seu principal aliado contra desastres naturais. Seus sistemas de alerta precoce, reconhecidos mundialmente, permitem detectar terremotos e tsunamis em questão de segundos. Através de uma rede de sismômetros e boias oceânicas, identificam-se as ondas sísmicas iniciais, enviando alertas imediatos a telefones celulares, meios de comunicação e sistemas públicos. Esses mecanismos oferecem segundos preciosos para evacuar a população e ativam protocolos automáticos, como a paralisação de trens de alta velocidade e o desligamento de usinas nucleares.

No setor de construção, a engenharia antissísmica atingiu níveis únicos de sofisticação. Edifícios emblemáticos como o Tokyo Skytree integram tecnologias avançadas, como núcleos estruturais que absorvem vibrações, e amortecedores sísmicos que reduzem o impacto. Estas inovações garantem maior segurança estrutural e demonstraram ser eficazes para proteger tanto as pessoas como os bens, inclusive durante terremotos de grande intensidade.

 

Cultura preventiva

Uma das características mais distintivas da estratégia japonesa é sua ênfase na educação preventiva, promovendo a conscientização sobre os riscos associados aos fenômenos extremos como parte essencial da rotina cotidiana. Desde a infância, os estudantes recebem formação sobre desastres naturais e protocolos de atuação mediante atividades práticas integradas ao currículo escolar.

Um conceito cultural especialmente chamativo é o Tsunami Tendenko, que destaca a importância da própria segurança durante um tsunami. Este princípio, ensinado especialmente em Tohoku, salvou centenas de vidas em 2011 ao incentivar os cidadãos a agir rapidamente, sem esperar outros e priorizando sua segurança individual acima de tudo.

O Dia da Prevenção de Desastres, celebrado a cada 1º de setembro em memória do grande terremoto de Kanthy em 1923, mobiliza milhões de pessoas em simulações a nível nacional, fortalecendo a capacidade coletiva para agir com agilidade. Além disso, a preparação para “The Big One”, o terremoto de grande magnitude esperado para atingir áreas densamente povoadas como Tóquio, é outro pilar essencial. As simulações, as rotas de evacuação bem planejadas e a colaboração público-privada são apenas algumas das medidas tomadas para enfrentar este possível desastre.

Complementando essa cultura, muitos lares japoneses mantêm kits de emergência para 72 horas, contendo água, alimentos não perecíveis, lanternas, baterias extras e kits de primeiros socorros, refletindo uma cultura profundamente enraizada na prevenção.

 

Infraestrutura resiliente

Diante da ameaça de inundações, o Japão investiu em infraestruturas para mitigar os danos. Um dos projetos mais emblemáticos é o Metropolitan Area Outer Underground Discharge Channel, um sistema subterrâneo que desvia o excesso de água provocado pelas chuvas torrenciais e os tufões. Este gigantesco complexo, composto por túneis e depósitos, protege a região de Tóquio e pode ser visitado durante a época seca.

Nas costas, os muros de contenção e abrigos verticais são elementos fundamentais para proteger as comunidades de possíveis tsunamis. Embora estas estruturas tenham gerado debates sobre seu impacto ambiental, sua contribuição para a segurança é inegável. Paralelamente, o planejamento urbano japonês prioriza localizações elevadas para assentamentos e designs resistentes em zonas de risco.

 

Modelos internacionais complementares

Embora o Japão seja uma referência reconhecida neste campo, outros países adotaram abordagens inovadoras, adaptadas às suas realidades e necessidades particulares.

  • Estados Unidos. O sistema de alerta ShakeAlert permite avisar as pessoas instantes antes de que chegue um terremoto, reduzindo ferimentos e danos. Além disso, simulações como o Great ShakeOut ensinam a milhões de cidadãos como reagir em caso de terremotos. Em regiões propensas a furacões, como Flórida e Louisiana, o planejamento está centrado em evacuações em massa. Estas estratégias, baseadas em previsões meteorológicas avançadas, reduziram significativamente as perdas humanas durante eventos recentes.
  • Países Baixos. Com grande parte de seu território abaixo do nível do mar, os Países Baixos lideram em engenharia hídrica. Seu sistema de diques e comportas, conhecido como Delta Workss, é considerada uma proeza tecnológica que protege o país contra inundações extremas. Além disso, os polders, terras conquistadas ao mar, funcionam como zonas de amortecimento, ajudando a regular o nível da água e protegendo as áreas circundantes.
  • América Latina. A combinação de infraestrutura moderna e soluções naturais tem sido crucial para enfrentar chuvas torrenciais. No México, o Túnel Emissor Oriente foi projetado para evitar enchentes na Zona Metropolitana do Vale do México, além de facilitar a manutenção do sistema de drenagem. Ao mesmo tempo, os programas de reflorestamento em países como Colômbia e Peru contribuem tanto para mitigar as inundações como para melhorar a biodiversidade local.
  • China. A criação de cinturões florestais costeiros atua como defesa natural contra tufões. Essas barreiras vivas não apenas reduzem o impacto dos ventos extremos, mas também promovem ecossistemas mais diversos, destacando uma integração bem-sucedida entre a mitigação de desastres e a proteção ambiental.

 

Lições globais

O panorama atual exige um enfoque coletivo para enfrentar os desafios que a mudança climática impõe. A experiência do Japão e dos demais países demonstra que a combinação de tecnologia, infraestruturas resilientes e planejamento integral é fundamental para reduzir os riscos e proteger as comunidades.

Compartilhar conhecimentos e adaptar soluções às particularidades locais permitirá que as nações melhorem sua capacidade de resposta diante de futuros eventos extremos. Ao adotar estratégias proativas e fomentar a cooperação global, é possível construir um mundo mais seguro e preparado para as adversidades do século XXI.

donwload pdf
Proteger o essencial: estratégias contra inundações

Proteger o essencial: estratégias contra inundações

A crescente exposição das cidades ao impacto de catástrofes climáticas impulsionou a busca de novas estratégias e tecnologias de engenharia que protejam a população e melhorem a resiliência das infraestruturas perante fenômenos extremos. Entre os principais desastres...

ler mais
E agora, o que fazemos com tanta energia renovável?

E agora, o que fazemos com tanta energia renovável?

Em uma sociedade que dependia de energias não renováveis, a mudança climática impulsionou uma revolução energética. O desafio hoje é como armazená-las e otimizá-las para poder nos beneficiar ao máximo delas. Era uma vez uma sociedade onde quase tudo o que seus...

ler mais
Primeira edição de GR Excellence: Colômbia

Primeira edição de GR Excellence: Colômbia

A MAPFRE Global Risks abriu suas portas para os gerentes de riscos das maiores empresas da Colômbia. Este encontro permitiu aos visitantes conhecer de perto as áreas da companhia, o trabalho das equipes e a importância da cibersegurança e da inteligência artificial no...

ler mais