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A América Latina pode se tornar referência em energia renovável?

A região tem o potencial de liderar a transição para um mundo mais verde graças à variedade de recursos naturais em sua grande geografia. Para tanto, precisará enfrentar desafios importantes como incentivar o investimento ou construir estruturas estratégicas.

 

Há anos, a América Latina avança no desenvolvimento de diferentes indústrias relacionadas com as energias limpas, apoiada pela situação geográfica privilegiada em recursos naturais e com um compromisso global pelo estabelecimento de políticas e programas a favor da sustentabilidade. Esta transformação pode gerar, além disso, um importante impulso econômico, favorecendo a criação de empregos e atraindo investimentos estrangeiros.

“A América Latina tem uma situação muito interessante porque é uma zona com múltiplas fontes de geração elétrica complementares entre os diferentes países. Além disso, trata-se da região ‘mais verde’ do mundo, dado que em sua matriz primária há 32% de energia renovável, quando no resto do planeta há cerca de 16%”, explica o novo Secretário Executivo da Organização Latino-Americana de Energia (OLADE), o economista chileno Andrés Rebolledo.

 

A situação atual latino-americana

A principal fonte de geração de matéria em fontes renováveis na região é a hidroeletricidade, que utiliza a força da água em movimento para produzir energia elétrica. Esse processo começa com a construção de uma barragem em um rio, formando um reservatório. Portanto, não emite gases do efeito estufa ou outros poluentes, o que a torna uma forma de energia limpa e ecológica.

Atualmente, a América Latina é líder mundial em geração desta energia. Conta com abundância de recursos hídricos e uma topografia adequada para a construção de centrais hidrelétricas, sendo o Brasil o país de maior capacidade instalada graças a grandes rios como o Amazonas, o Paraná e o Tocantins. Outros países da região que também avançaram nesta matéria são Colômbia, Argentina, Chile, Peru e México.

“Além da hidroeletricidade, as energias renováveis não convencionais também vêm crescendo de maneira importante, particularmente a solar e a eólica. Todos os países regionais estão em uma transição energética diferente e em ritmos diferentes, mas todos eles compartilham a visão de que para o período entre 2040 e 2050 deveriam atingir o objetivo de net zero”, assegura o economista.

Sobre os projetos, o especialista assinala que o principal setor em crescimento hoje tem a ver com energia solar e eólica, onde alguns países estão fazendo enormes esforços para desenvolver suas indústrias de hidrogênio verde. Especificamente em lugares como Chile, Argentina, Brasil, Colômbia ou Uruguai, estão sendo realizados importantes investimentos neste tipo de fonte de energia, bem como projetos-piloto para sua aplicação em setores como o transporte ou a indústria.

A OLADE também sublinha o impulso regional por “descarbonizar o transporte”, o que conseguiria reduzir as emissões de gases do efeito estufa e melhorar a qualidade do ar. Isso é imprescindível em cidades como Lima ou Santiago do Chile, que estão entre as mais contaminadas do mundo. Para isso, o uso de veículos elétricos e a instalação de infraestrutura em carga estão se ampliando cada vez mais, variante que habilita para desenvolver a eletromobilidade em todo o mundo.

 

Grandes desafios no futuro

A América Latina tem um grande potencial para desenvolver energias renováveis, e alguns países já estão trabalhando em planos para exportá-las. Por exemplo, o projeto que prevê a construção de uma linha de transmissão de 1.200 quilômetros para transportar a energia solar do norte do Chile para a Argentina, ou o projeto de energia hidrelétrica para conectar a rede elétrica do Brasil e do Uruguai mediante uma linha de transmissão de alta tensão.

Diante deste mercado potencial, o especialista aponta os avanços na criação do Sistema de Interconexão Elétrica dos Países da América Central, conhecido como SIEPAC. Esta rede de transmissão elétrica conecta seis países dessa zona (Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá) gerando um importante intercâmbio elétrico e exportações para o interior dessa região.

Apesar de todas as qualidades que fazem da América Latina uma região que poderia liderar esta transição energética, também existem importantes desafios a enfrentar. “Os principais desafios estão relacionados com a falta de financiamento para iniciar os projetos e com a ausência de um marco regulatório estável, além da falta de material tecnológico e de pessoal qualificado especializado neste setor”, enumera.

Quanto a outros pontos fortes, o chileno observa uma sintonia entre os países circunvizinhos que os faz avançar em matéria de integração, sobretudo porque se trata de economias muito complementares, com recursos energéticos diferentes entre elas. Nesse sentido, destaca como a conectividade pela via das infraestruturas energéticas é claramente um dos melhores e mais propícios avanços que poderíamos ter para o desenvolvimento econômico da região.

Para finalizar, Rebolledo fala sobre o panorama que o espera à frente da presidência da OLADE, onde acredita que “o maior desafio seja a segurança energética, tema que espera ver resolvido à medida que avança a integração energética regional”. Além disso, estão trabalhando em “mudanças tecnológicas aceleradas e em inovações energéticas como o hidrogênio verde, a eletromobilidade ou a digitalização de redes”, conclui.

 

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Andrés Rebolledo Smitmans é o atual Secretário Executivo da Organização Latino-Americana de Energia (OLADE) para o período 2023-2025. O economista chileno possui ampla trajetória profissional de mais de 30 anos na qual, entre outros cargos, atuou como Ministro de Energia do Chile, presidente da Empresa Nacional de Petróleo e consultor no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e outros órgãos internacionais.

Se você achou este artigo interessante, recomendamos a entrevista que realizamos ao antigo secretário executivo da OLADE, Alfonso Blanco: “Nossa região, em matéria de energias renováveis, tem um potencial enorme. Muito ainda não foi explorado”

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