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Isabel Casares, fundadora e sócia honorífica da Associação Ibero-Americana de Gestão de Riscos e Seguros (AIGRYS)

“É preciso envolver a todos na implementação da gestão de riscos das empresas e conhecer a eficiência e eficácia dos controles existentes”

Constituída em Bogotá em julho de 2017, a Associação Ibero-Americana de Gestão de Riscos e Seguros (AIGRYS) aglutina dezenas de profissionais com o objetivo de pesquisar e desenvolver os standards e modelos sobre a gestão de seguros e riscos. Sua fundadora e sócia honorífica, Isabel Casares, nos fala sobre o estado da profissão e destaca o avanço na conscientização empresarial nesta matéria em todo o mundo e, concretamente, nos países latino-americanos.

1.       Como se pode melhorar a conscientização sobre o risco nas grandes empresas?

Cada vez é mais importante a cultura da existência de riscos nas empresas, entendendo que se estão gerenciando os riscos, mas o que falta é uma correta organização do processo para que todos os envolvidos participem ativamente na implementação dessa gestão nas empresas. Que se conheçam a eficiência e eficácia dos controles existentes, especialmente os controles preventivos. Devemos evitar que esses riscos sejam materializados.

2.       Por que é fundamental para uma grande empresa contar com um gerente de riscos?

O gerente de riscos nas empresas é o encarregado de administrar e coordenar que o processo está sendo realizado em toda a organização, que as políticas e procedimentos existem e estão sendo cumpridos. Da mesma forma, está plenamente coordenado com o resto dos diretores e responsáveis das áreas para manter o processo dinâmico, aparecendo e ocupando um lugar adequado no organograma geral da empresa.

3.       Quais são as principais funções que deve empreender um gerente de riscos?

As tarefas primordiais do gerente de riscos devem ser, entre outras:

–          Assegurar uma gestão integral, homogênea e coerente dos riscos aos que a empresa está exposta, para coordenar, identificar, avaliar, mitigar, acompanhar e controlar os riscos mais significativos, com base nas políticas e objetivos estabelecidos pelo Conselho de Administração.

–          Aplicar o apetite de risco global definido pelo Conselho.

–          Elaborar o relatório de gestão de riscos sobre o processo implementado, assim como coordenar todos os fluxos de informação e dados relativos ao mesmo.

–          Promover o cumprimento da Política de Gestão de Riscos.

–          Coordenar a gestão de riscos com o resto das funções chave, responsáveis de áreas e especialistas de riscos.

–          Promover a manutenção e a atualização do mapa de riscos da empresa.

–          Realizar o acompanhamento dos limites e umbrais dos principais indicadores de risco (KRI).

–          Informar periodicamente ao Conselho sobre a exposição da empresa aos diferentes riscos, alertando especialmente sobre aqueles cujos indicadores alcancem valores críticos, assim como qualquer outro acontecimento ou situação cuja incerteza possa afetar a atividade da empresa.

 

“Brasil e México são os países latino-americanos mais avançados em gestão de riscos, fundamentalmente pelos setores financeiros, metalúrgico, minerador e energético”

4.       Quais são os principais riscos que deve correr?

A empresa deve identificar os riscos mais significativos que possam pôr em perigo o patrimônio e a continuidade do negócio. Para isso devem identificar riscos estratégicos, tecnológicos, operacionais, reputacionais, legais, financeiros, etc. O êxito da empresa depende do risco que se esteja disposto a assumir e da capacidade que se tem de gerenciá-los.

5.       Qual é sua relação com os agentes do setor seguros e seu papel na contratação de seguros?

A transferência de riscos através de contratos de seguros é uma parte fundamental do processo para a tomada de decisões, pelo que o gerente deve ter uma relação direta com todos os agentes do setor. Com isso o que se pretende é dar a conhecer quais riscos podemos transferir para as apólices de seguros e que parte dos riscos somos capazes de assumir mediante franquias (dedutíveis), limites e exclusões.

6.       O que demandam os gerentes de riscos das seguradoras?

A principal demanda do gerente é a necessidade de uma correta vinculação dos riscos da empresa com as coberturas das apólices de seguros e maior transparência nas contratações. É necessário deixar de pensar que tudo está segurado e trasladar nosso perfil de riscos às próprias apólices de seguros.

7.       Como se percebe seu trabalho e envolvimento no negócio nas diferentes regiões do mundo?

Cada vez é mais reconhecida a figura do gerente de riscos nas empresas de qualquer país. De fato, o próprio regulamento é cada vez mais claro no desenho das funções e no benefício obtido após o processo. Seu valor agregado não é apenas econômico; também destaca seu papel no controle e na prevenção dos riscos para que estes não se convertam em eventos.

8.       Como você vê os países ibero-americanos em matéria de gestão de riscos?

As empresas latino-americanas estão muito avançadas neste sentido, fundamentalmente pelas situações de riscos externos que estão vivendo. No entanto, ainda estão avançando nos novos riscos emergentes que surgem. Após os estudos que se foram realizando, podemos dizer que 40% das organizações na América Latina contam com um nível de maturidade médio em gestão de riscos.

Os países mais avançados em gestão de riscos são Brasil e México, fundamentalmente pelos setores financeiro, metalúrgico, minerador e energético que veem o valor agregado que proporciona a gestão dos riscos.

 

“Cada vez é mais reconhecida a figura do gerente de riscos nas empresas, e o regulamento mais claro no desenho das funções e no benefício obtido após o processo”

9.       Como incide a interconectividade global na potenciação da figura do gerente de riscos?

Considero que a figura do gerente de riscos atualmente está muito mais posicionada globalmente, e o que nos falta é polir as funções e objetivos marcados para um eficaz cumprimento dos objetivos e procedimentos dentro das empresas. Mediante as diferentes metodologias existentes (ISO, ARENA, MECI, SOLVÊNCIA, BASILEIA, etc.) temos o esqueleto do processo para uma implementação eficiente, pelo que o seguinte passo está em nossa capacidade para administrá-lo dia a dia.

10.   Quais são os principais desafios futuros enfrentados pelos gerentes de riscos?

A responsabilidade futura do gerente de riscos, tanto nas grandes empresas como nas PMEs, cresce, e o principal desafio é concentrar-se nos riscos mais significativos para poder estabelecer os controles preventivos necessários nas empresas que sirvam para o estabelecimento das estratégias e para a correta tomada de decisões.

 

Isabel Casares San José-Martí é graduada em Ciências Econômicas e Empresariais pela Universidade Autónoma de Madrid e doutora em Economia Financeira e Atuarial pela Universidade Complutense. Possui o título profissional de atuária de fundos de aposentadorias pelo Ministério da Economia e o diploma de mediadora de seguros diplomada e em Formação Digital.

Ofereceu serviços de assessoramento atuarial e financeiro em matéria de pensões, avaliação e gestão de riscos e seguros desde 1989 – quando começou sua carreira no setor segurador, passando pela Direção Técnica como atuária de Vida e Não Vida em companhias de seguros, assessora de corretoras de seguros e empresas nacionais e internacionais. Trabalhou durante 8 anos na Assessoria Atuarial e de Seguros da KPMG, levando a Direção de Pensões e Gestão de Riscos de importantes empresas, e desde 2007 é presidente da Casares, Assessoria Atuarial e de Riscos.

Autora de livros e numerosos artigos e instrutora de cursos e mestrado nacionais e internacionais ministrados por escolas de negócios e universidades, é fundadora e sócia honorífica da Associação Ibero-Americana de Gestão de Riscos e Seguros (AIGRYS).

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