De acordo com dados recentes do Centro de Estudos em Economia e Negócios (Centro de Estudios en Economía y Negocios [CEEN]) do Chile, a confiança do investidor estrangeiro na região obteve uma nota ligeiramente otimista, avançando a partir do nível neutro que alcançou em 2020, e melhorando sua percepção do contexto geral, institucional, regulatório e social. Analisamos, junto com Mayra Kohler, Gerente Geral da Câmera Oficial Espanhola de Comércio do Chile (Cámara Oficial Española de Comercio de Chile [CAMACOES]), a situação atual do país, o potencial de desenvolvimento imediato e os setores que geram mais interesse em potenciais investidores.
Você poderia nos dar um breve esboço do impacto da pandemia na região? Em que ponto da recuperação nos encontramos?
Como aconteceu em muitos países, a pandemia da COVID-19 paralisou atividades econômicas, fechou postos de trabalho e, portanto, paramos de crescer. No Chile, 2020 foi um ano que significou, segundo dados do Ministério de Economia, a queda de 6% do PIB e a perda de mais de um milhão de empregos. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (Instituto Nacional de Estadísticas [INE]) (2021), a taxa de desemprego de 2020 atingiu uma média de 10,7%.
Agora poderíamos dizer que estamos em fase de recuperação, embora seja uma fase de readaptação e reativação. Para retomar as atividades em áreas que foram desaceleradas ou profundamente transformadas pela pandemia. E definir que caminho tomar e como avançar.
Como a pandemia afetou a entrada de investimentos? Qual é a situação atual e onde começou?
A situação política do Chile hoje apresenta um certo grau de incerteza. Mas, na realidade, os números são bastante alentadores. De acordo com a InvestChile, entre janeiro e setembro de 2021 o investimento estrangeiro direto rendeu US$ 15,374 bilhões, valor 80% superior ao recebido em todo o ano de 2020. E isso apesar de o Banco Central ter reportado um fluxo negativo de investimentos de US$ 789 milhões em setembro.
Poderia falar das características que fazem do Chile um país tão atraente para o capital estrangeiro?
Segundo a experiência de empresas espanholas no Chile, sócias da CAMACOES, nosso país possui uma força institucional e regulatória que faz com que nosso mercado continue atraente e com diversas oportunidades de investimento. Um exemplo disso é o potencial em matéria de energias renováveis e infraestrutura. O Chile é um país com geografia variada e complexa, por isso precisa de uma boa infraestrutura rodoviária e portuária para que a cadeia logística, em qualquer área, não seja afetada.
Também, a mudança climática traz oportunidades, assim como a abertura de novos mercados para investidores estrangeiros. Por exemplo, a busca de novas formas de obtenção de água como a dessalinização e a reutilização de águas. Por outro lado, a geração de energia baseada em fontes renováveis (solar, eólica) para baixar as emissões de carbono. O melhor exemplo disso é o hidrogênio verde. Tudo isso significa novas oportunidades de inovação e investimento.
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De onde procedem as principais injeções de capital?
De acordo com vários relatórios, a China está emergindo como um dos principais investidores do Chile. Em 2019, chegou aos US$ 4,852 bilhões. De acordo com a InvestChile, o valor total registrado atingiu US$ 18,448 bilhões, o que equivale a um aumento de 31%. Energia e Mineração são áreas que concentram 63,4% do total do investimento.
A União Europeia não fica atrás. Do ponto de vista econômico, a UE é o terceiro sócio comercial do Chile, primeiro investidor e terceiro destino regional de nossos investimentos. Segundo dados da Subsecretaria de Relações Econômicas Internacionais (Subsecretaría de Relaciones Económicas Internacionales [SUBREI]) do Governo do Chile, o investimento da UE no Chile totalizou US$ 18,228 bilhões em 2019.
Quais são os principais setores de interesse na atualidade?
De acordo com os relatórios que temos, até 2019, de 100% dos projetos de Investimento Estrangeiro Direto (IED), 31,6% correspondiam à mineração, 23,5% a serviços financeiros e 13,3% a água, gás e eletricidade. Essa tendência continua. Mas hoje, também podemos ver que os investidores estrangeiros estão vendo no Chile potencial em áreas como as comunicações e hotelaria/turismo.
Qual sua avaliação dos setores a seguir?
- Energias renováveis. Há interesse, avanços e aplicação de tecnologias e infraestruturas cada vez mais sofisticadas, mas de acordo com as percepções que levantamos dos nossos parceiros, falta clareza a nível jurídico e que o Estado gere mais incentivos para que as empresas privadas invistam.
- Eficiência energética. É preciso conscientizar a população por meio de campanhas educativas e que os mesmos cidadãos também atuem sobre o assunto. Quanto ao mercado, tornou-se imprescindível que os aparelhos eletrônicos (desde uma geladeira até uma lâmpada) tragam selos ou algum elemento informativo que indique o nível de consumo de energia. Isso sem dúvida se destaca e se valoriza.
- As tecnologias da informação e comunicação (TIC) tornaram-se cada vez mais indispensáveis para as organizações, qualquer seja sua índole. Portanto há uma demanda maior, e isso implica na procura do melhor serviço. Não se pode esquecer que as TIC também geram impressão de carbono por seu consumo energético. Portanto, é importante que data centers eficientes e duráveis sejam desenvolvidos e instalados, visando o mínimo de reparo e baixo consumo de energia.
- Infraestrutura e transporte. A infraestrutura tem o desafio de ser construída com base em materiais cada vez mais sustentáveis e dar conta de sua qualidade para que sejam mantidos ao longo do tempo. Em termos de transporte, a eletromobilidade está dando seus primeiros passos, mas como muitas outras questões relacionadas à ecologia e ao cuidado com o meio ambiente, elas primeiro precisam de uma transformação cultural para remover o ceticismo.
Conte-nos sobre projetos em gestação ou andamento que estão impulsionando o investimento.
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Na CAMACOES vemos oportunidades em Hidrogênio Verde. Neste ano, as empresas GNL Quintero, Aciona Energia e Enagás, anunciaram uma associação para desenvolver uma usina de eletrólise para a geração de hidrogênio verde a partir de água e eletricidade renovável, que considera um investimento estimado em US$ 30 milhões. Este sem dúvida é um plano ambicioso e visionário que trará milhares de empregos e posicionará o Chile no mapa da sustentabilidade como principal produtor e exportador de energias renováveis. Também vemos com muito bons olhos o realizado em Cerro Dominador, primeira usina termossolar do Chile.
Que oportunidades se apresentarão nos próximos anos? Espera-se que novos setores se destaquem ou as tendências serão mantidas?
Acho que as áreas de energia, infraestrutura e meio ambiente se manterão como os principais incentivadores do investimento estrangeiro no Chile. Em termos gerais, o que vai determinar o sucesso e durabilidade das empresas, em qualquer área e país, é sua capacidade de adaptação e incorporação das novas demandas sociais: gênero, inclusão, diversidade, relação com as comunidades, inovação, cuidado com o meio ambiente. Qualquer empresa que saiba ler bem esses indicadores, poderá ter oportunidades nos próximos anos.
Que importância tem o desenvolvimento tecnológico e a inovação nesses setores?
Absoluta. A tecnologia e a inovação permitem que a energia e a infraestrutura atendam aos padrões de qualidade, legais e ambientais; produzir de forma eficiente e competitiva; desenvolver novos produtos e soluções; e colocar a pessoa e a satisfação de suas necessidades no centro. Tecnologia e inovação serão a bússola que guia o sucesso e a sobrevivência das organizações.
Mayra Kohler Rodríguez, Gerente Geral da CAMACOES e Diretora da OTIC (Organismo Técnico Intermedio de Capacitación [Organismo Técnico Intermédio de Capacitação]) CAMACOES.
Mayra Kohler exerceu diversos cargos corporativos em áreas de Assuntos Públicos, Comunicação Corporativas e Relação com Stakeholders em empresas como o Santander e a Associação Chilena de Segurança (Asociación Chilena de Seguridad [ACHS]). Iniciou sua carreira como jornalista do âmbito de Economia e Negócios nos jornais O Mercurio e Diário Financeiro. Mestrado em Comunicação e Desenvolvimento Social da London School of Economics; Licenciada em Comunicação Social e Jornalista PUC (Pontificia Universidad Católica de Chile [Pontifícia Universidade Católica do Chile]).