Juan Jesús García Chaparro, Diretor Econômico-Financeiro da Hispasat, nos fala nesta entrevista sobre como a empresa administrou a continuidade de suas operações após o início da pandemia Covid-19, o importante papel dos satélites durante a prestação de serviços de conectividade para setores tão importantes como educação, saúde ou administração, e sobre as tendências futuras em suas múltiplas aplicações
1.Na atualidade, como está distribuído o negócio da Hispasat? Em que segmentos/setores presta serviço e em quais regiões?
Tradicionalmente, a utilização mais eficiente e ampla dos satélites de comunicações esteve ligada aos serviços de vídeo, em especial em aplicações de radiodifusão ou distribuição de sinais de televisão. Nas regiões com escassa implantação de infraestruturas de telecomunicações terrestres, o satélite também desempenhou um papel essencial, graças à rápida capacidade de implementação de redes de telecomunicações dentro de sua marca de cobertura ou como link de conexão de redes terrestres já existentes, mas com desdobramento geográfico limitado a âmbitos locais ou regionais.
Nesse contexto, a distribuição ou divisão do negócio da HISPASAT entre vídeo e redes de telecomunicações, ou entre vídeo e dados para simplificar, era de aproximadamente dois terços (vídeo) e um terço (dados) há três ou quatro anos, com maior peso relativo do vídeo nas coberturas para a Europa e uma proporção mais equilibrada nas coberturas da América Latina.
No decorrer dos últimos anos, as mudanças acontecidas no âmbito tecnológico, com a extensão da fibra óptica e das redes móveis, os novos hábitos de consumo audiovisual, de televisão linear para a televisão sob demanda e OTT, e a demanda ubíqua de conectividade, transformaram completamente o setor.
Hoje em dia, apesar de que os serviços de vídeo ainda são a principal utilização e ocupação de capacidade dos satélites, em termos gerais, sua tendência a futuro é claramente descendente. Contudo, eles continuarão mantendo um peso relativamente importante no bolo de distribuição que representa nosso negócio. Em 2020, cerca de 50% das receitas ainda provinham de vídeo e o outro 50% das redes de dados, em que os segmentos de backhaul celular (apoio e extensão de redes móveis), as soluções para ambientes de mobilidade em todas suas variantes (trens, marítimo e aéreo) e a conectividade no segmento corporativo, institucional e governamental, tanto em áreas rurais quanto naquelas com escassa implantação de infraestrutura terrestre, apresentam perspectivas de crescimento promissoras e conformam os segmentos onde a companhia está se posicionando estrategicamente.
Em termos geográficos, aproximadamente dois terços de nosso negócio procedem do continente americano, principalmente dos mercados latino-americanos, com o Brasil como principal referência, e o restante da Europa e do norte da África, concentrado em maior medida na Espanha e Portugal.
2.- Pode descrever brevemente em que situação se encontra a indústria aeroespacial/de satélites?
Como mencionei acima, nos últimos anos, o setor está vivenciando um importante processo de transformação. Isto se revelou na própria definição dos serviços que prestamos atualmente, muito diferente de anos anteriores. Contudo, o movimento se propagou para outros âmbitos, como o projeto dos satélites que hoje permitem maior flexibilidade operacional em órbita para adequá-los às contínuas necessidades do mercado, ou nos lançadores que, em sua busca por maior redução de custos, empregaram a reutilização de alguns módulos de seus veículos.
Menção especial merecem as constelações de satélites que ainda não conseguiram uma viabilidade clara para seu modelo de negócio, como demonstra claramente o recente processo de declaração de insolvência (Capítulo 11) da OneWeb, uma das propostas que alcançara maior atenção da mídia e dos investidores.
Pelo lado das operadoras de satélites, após alguns anos de adaptação progressiva a este novo ecossistema, é preciso salientar que o setor está sabendo se reinventar e, a partir daí, identificar certos nichos com oportunidades em que o satélite, por suas características principais, está destinado a desempenhar um papel relevante. Este é o caso dos serviços de conectividade em ambientes remotos, em que a distância respeito dos grandes núcleos urbanos ou a escassa densidade tornam a implantação da infraestrutura terrestre ineficiente ou sequer possível. Isto também acontece nas comunicações em ambientes marítimos ou aéreos. As infraestruturas terrestres não são capazes de oferecer serviços em alto-mar ou em um voo transoceânico e, no entanto, a demanda por conectividade dos viajantes continua crescendo.
3.- A nível internacional, em que direção aponta a demanda de serviços? Existem diferenças nas diferentes regiões?
Para analisar a tendência e o comportamento da demanda de serviços, seria necessário explicar a combinação que acontece entre as diferentes verticais de negócio e as regiões que se encontram sob nossas marcas de cobertura.
Na transição que está sendo percorrida nos últimos anos e que empreendeu a mudança de rumo para o setor dos dados, foi identificada uma série de verticais em que o satélite conta com grande potencial, especialmente em determinadas regiões.
Assim, o âmbito da mobilidade, por exemplo, concretamente o segmento de conectividade aérea é uma das verticais com maior potencial de crescimento para os próximos anos. Nela ocorrem nichos de demanda nas áreas de grande tráfego aéreo, como os corredores aéreos transoceânicos ou as áreas de maior densidade de voos internos, como os Estados Unidos. Nosso novo satélite, Amazonas Nexus, conta com cobertura otimizada para coletar a demanda de serviços de mobilidade aérea tanto nos Estados Unidos quanto nos corredores do Atlântico norte e sul a partir de sua localização em 61º Oeste.
Além dos serviços de mobilidade, contamos com soluções de banda larga residencial, corporativa e de extensão de redes celulares. É evidente que em nossas áreas de cobertura há diferentes graus de maturidade nas regiões potencialmente acessíveis para este tipo de serviços desde nossas posições orbitais. Este é o caso da Europa, e mais concretamente da Espanha, onde foi realizado um importante esforço para a implementação de fibra. Porém, há outras em que o potencial de crescimento é enorme para este tipo de aplicações, como a América Latina. Neste local, a difícil orografia e o menor grau de desenvolvimento na implementação de infraestrutura terrestre para soluções de conectividade permitem configurar uma atraente demanda de serviços por satélite. A ampla e sólida presença da HISPASAT na região, onde contamos com nossa filial brasileira HISPAMAR Satélites, e com filiais e presença comercial em países como Colômbia, Argentina, México ou Chile, e sua posição de liderança graças a sua afinidade cultural, consegue nos posicionar de maneira relevante neste segmento.
Mas mesmo na Espanha, como país com ampla implantação de fibra óptica, ainda continuamos encontrando que hoje existem mais de 1.100 municípios do território nacional que não possuem acesso à Internet com velocidade de conexão mínima de 30 Mbps, tal e como estabelece a Agenda Digital Europeia, e milhares de lares que nem sequer têm cobertura. Esse número de municípios se multiplicará se atendermos ao compromisso da Agenda Digital 2025, que marcou como objetivo a velocidade mínima de 100 Mbps. Além disso, os planos de extensão de fibra fazem referência aos lares conectados, mas sem considerar o território como tal. Este fato, em um momento em que estamos prestes a implantar o padrão 5G e a Internet das Coisas, em que será necessária a conexão de inúmeros sensores e dispositivos para aplicativos focados em otimizar o trabalho em setores como energético ou agroalimentar, reforça a importância da cobertura global oferecida pelos satélites com sua marca. Em síntese, mesmo em áreas em que o uso da fibra está bem estendido, torna-se mais necessário do que nunca a utilização da tecnologia de satélites para complementar essas redes terrestres.
Também, a chegada da COVID-19 representou uma chamativa alteração das tendências no uso das telecomunicações: nos lares, os usuários incrementaram muito o consumo de capacidade, em grande medida por causa dos conteúdos audiovisuais, tensionando algumas margens no tráfego de dados que, em condições normais, antes eram mantidas pelas infraestruturas terrestres só como suporte, com o decorrente risco de saturação. No médio prazo, será preciso estarmos atentos para observar se essas mudanças são fruto da necessidade excepcional ou se chegaram para ficar. Em caso de que a excepcionalidade se torne um novo hábito de consumo, certamente o satélite sempre será a solução de implementação imediata para uma redistribuição mais eficiente dos diferentes usos das telecomunicações, e particularmente para derivar os serviços de vídeo a uma tecnologia mais adequada para sua distribuição e difusão.
4.- Entende-se que a indústria aeroespacial vive em contínua evolução, com a fabricação de novos tipos de satélites e lançadores, mais e novos serviços, novas tecnologias, etc. Como repercute a contínua inovação do setor do ponto de vista da gestão de riscos?
A gestão de riscos é sempre um processo dinâmico e em constante evolução. A análise de riscos contínua, que as gerências de risco das companhias devem realizar de maneira recorrente, sempre deve partir da premissa de questionar do zero a vigência dos riscos existentes até esse momento e os novos riscos aos quais possa haver exposição, tanto por questões de evolução tecnológica quanto de evolução do próprio modelo de negócio associado a uma progressiva verticalização na cadeia de valor, sem ignorar a evolução de riscos de tipo regulatório ou financeiro.
Nesse sentido e ao longo de sua história, a HISPASAT tem demonstrado uma grande resiliência para a parte mais vinculada com a evolução tecnológica, consubstancial com as características de nossa própria atividade. Graças a que foram analisados previamente e com minuciosidade os possíveis riscos de enfrentar cada novo programa de satélite: novos veículos de lançamento e sua experiência em voo prévia, novas plataformas ou configurações de projeto de nossos satélites, redundâncias internas, margens de combustível e potência, grau de suporte em outros satélites da frota de serviços críticos, compromissos prévios ao lançamento assumidos com clientes, etc., tornou-se possível definir um programa de gestão de riscos desenhado ad-hoc para cada projeto satelital, em que são transferidos contratualmente alguns riscos ao fabricante do satélite e à agência de lançamento e, para os que são retidos, concebeu-se um programa de seguro “sob medida” para as necessidades da HISPASAT.
Assim, é preciso mencionar e salientar o grande nível de profissionalismo e a capacidade do mercado segurador para o desenvolvimento e a adequação das cláusulas de apólices contratadas, com o objetivo de oferecer uma solução de seguro ajustada aos riscos que pretendemos segurar e cobrir.
5.- Considera que a indústria espacial é mais segura agora que há 10 anos?
Nos últimos anos, a indústria espacial melhorou de maneira substancial os processos de fabricação e de todos os testes que é preciso realizar no satélite, tanto na construção quanto na preparação para o lançamento. Tudo isso contribuiu para incrementar a confiabilidade de todos os elementos que contribuem para o sucesso da colocação em órbita e na operação dos satélites.
Hoje em dia, a cibersegurança, tanto no segmento de voo quanto no terreno, representa um dos âmbitos em que a indústria colocou de maneira especial seu foco para reforçar e garantir as operações. Nessa linha de trabalho e sem adentrar em aspectos excessivamente técnicos, nos quais não me sinto capacitado, uma das principais vias de pesquisa em que está imerso o setor aeroespacial a nível internacional para responder de maneira satisfatória aos desafios de segurança que estão apresentados é a das comunicações quânticas. Este novo e revolucionário enfoque tecnológico, com a multiplicação das velocidades de processamento de forma exponencial, permitiria oferecer às comunicações via satélite maior confiabilidade respeito das comunicações terrestres. Sem dúvida, seria um grande valor agregado para garantir a segurança, por exemplo, das redes críticas de clientes institucionais ou corporativos.
6.- Os satélites desempenharam um papel importante durante a crise desencadeada pela pandemia. Os seus serviços foram fundamentais em muitos aspectos. Qual foi a experiência da Hispasat?
A pandemia representou uma chamada de atenção para o problema de conectividade sofrido por inúmeras regiões e que na HISPASAT percebemos muito diretamente em diversas áreas de nossas marcas de cobertura e, em particular, porque nos resulta mais próximo, em inúmeros pontos de nossa geografia com suas implicações, além do acesso à Internet para uso particular, em setores tão importantes como educação, sanitário ou o da Administração. Nas áreas menos povoadas da Espanha, os empresários experimentaram maiores dificuldades para transformar digitalmente seus negócios, os trabalhadores para desenvolver suas funções de maneira telemática, os estudantes para acessar as aulas online e as famílias para se comunicar entre si. Este fato, muito comentado nos meios de comunicação nos últimos meses, foi mais grave ainda em outras regiões menos favorecidas, como a América Latina.
Não estamos diante de uma questão conjuntural que devemos unir com leviandade à pandemia: é um problema que já sofríamos e que agora simplesmente se tornou ainda mais evidente. Portanto, o que devemos nos perguntar não é simplesmente como nos recuperar até chegarmos à situação prévia à pandemia, mas como conseguiremos superar de vez esse obstáculo que já sofríamos e que agora, simplesmente, conhecemos de primeira mão porque se tornou mais claro do que nunca.
7.- E da perspectiva da gestão de riscos, afetou a pandemia em alguma medida sua gestão? Nesse caso, como enfrentaram?
Certamente. Antes da declaração oficial da pandemia, o ano começou com mercados financeiros convulsos e especialmente voláteis, que já antecipavam a incerteza que estava causando o que naquele momento não deixava de ser uma epidemia localizada na China, mas que foi se propagando com enorme rapidez para acabar se estendendo de maneira global e com dramáticas consequências para a saúde de tantas pessoas, especialmente dos grupos mais vulneráveis. Esta situação, que condicionou de maneira tão radical a vida e os hábitos diários no mundo inteiro, inevitavelmente não podia deixar de influir na gestão das companhias e, naturalmente, a HISPASAT não foi a exceção.
Nesse contexto, a HISPASAT adotou, com alguns dias de antecedência à declaração oficial do estado de alarme, um plano de adaptação global ao novo cenário ao qual estávamos nos encaminhando, claramente articulado em três eixos:
O primeiro e mais importante: cientes de que as organizações funcionam principalmente pelo impulso e o trabalho diário das pessoas que fazem parte dela, foi salvaguardar e proteger a saúde e o bem-estar de nossos funcionários. Assim, quando a pandemia já estava estendida, mas ainda não tinha sido decretado o estado de alarme, a HISPASAT recomendou a todos seus trabalhadores que realizassem suas atividades de maneira remota, exceto aos profissionais envolvidos diretamente no controle e na operação dos satélites, com o desenho de um plano específico.
O segundo eixo, e não menos importante, sobre o qual foi estabelecido o plano, era garantir a continuidade dos serviços e das operações. Sobre esse eixo foi desenvolvido um plano de contingência específico, reforçando os protocolos de acesso a nossos centros de operações, isolando em modo “bolha” as salas de controle e proporcionando equipamento de proteção específico ao pessoal que realiza seu trabalho nesses locais. A antecipação da Hispasat e a rapidez na tomada de decisões contribuíram de maneira determinante para a redução do risco de contágio e para manter as operações no centro de controle de satélites em condições nominais.
Finalmente, o terceiro eixo consistiu em limitar os impactos financeiros que a crise da COVID-19 começaria a causar. Por sua vez, neste ponto houve uma ação em três linhas principais, mantendo em todo momento a estrita disciplina financeira que orienta a gestão da companhia. Em primeiro lugar, reforçaram-se todos os processos administrativos da companhia, com foco especial nas contas a receber, monitorando a situação da carteira de clientes. Também foi estabelecido um estrito controle de gastos e investimentos não críticos, com critério estrito de rigor e austeridade, não incorrendo nas despesas estritamente necessárias e que comprometessem, mesmo que de maneira tangencial, a geração do fluxo de caixa. Finalmente, foi adotada a decisão de incrementar a posição de liquidez da companhia, para antecipar qualquer imprevisto com incidência na geração do fluxo de caixa recorrente. Tudo isso partindo de um balanço saudável e de uma posição financeira sólida.
8.- A crise desencadeada obrigou a modificar muitas estratégias de negócio em grandes empresas. Mudou o roteiro da Hispasat no relativo a projetos em andamento e à evolução do negócio? Qual é sua previsão de lançamentos a curto prazo?
O setor de satélites, diferente de outros negócios mais vulneráveis, caracteriza-se pela alta resiliência a este tipo de situações que estamos vivenciado. Em grande parte, isto é assim graças aos contratos a longo prazo, que consolidam uma parte substancial da geração do fluxo de caixa dos próximos exercícios, combinado com o papel chave das telecomunicações como infraestrutura crítica, tanto para “corporates” quanto para famílias, especialmente em situações de emergência. Podemos reafirmar esta asseveração após observar como as redes de telecomunicações suportam com boa razoabilidade o substancial incremento acontecido na demanda de conectividade para apoiar, por exemplo, todo o volume de tráfego gerado pelo trabalho remoto ou também por serviços de vídeo, para cobrir o tempo de lazer nas fases mais duras de confinamento.
Contudo, sendo o mencionado acima um enunciado geral, não deve ocultar alguns efeitos adversos que esta crise está produzindo em alguns segmentos e verticais de negócio, como é o caso das redes corporativas para o mercado de “Petróleo e Gás”, fortemente afetado pela pandemia, assim como os serviços em ambientes de mobilidade. A parada na atividade do transporte aéreo e marítimo foi quase total e, hoje em dia, o número de voos operados está muito longe da situação prévia à COVID-19.
Apesar de tudo, acreditamos e temos certeza de que este segmento continuará sendo um dos principais drivers de futuro do setor e que a HISPASAT se posicionou decididamente com a fabricação de seu novo satélite, Amazonas Nexus, aprovado pelo Conselho no final de 2019, e com lançamento previsto no final de 2022.
Este satélite foi projetado com a tecnologia mais avançada existente na indústria e com uma configuração técnica baseada no conceito HTS (High Throughput Satellite ou satélite de alto rendimento), principalmente orientado a atender à demanda de conectividade em voo tanto nos corredores aéreos do Atlântico, norte e sul, bem como na região da América do Norte. Assim mesmo, incorpora o desenho de cargas úteis específicas e sob demanda para serviços de conectividade na Groenlândia, e outras capacidades para clientes de tipo institucional ou governamental.
Entre as iniciativas de trabalho que foram estabelecidas para a elaboração do plano de adaptação global ao novo cenário marcado pela COVID-19, que mencionei na resposta acima, também foi organizado um grupo de trabalho específico para revisar e validar todas as hipóteses que embasaram a decisão de abordar o projeto Amazonas Nexus, concluindo de maneira favorável respeito da vigência dessas hipóteses no horizonte definido para sua implementação no início de 2023. Esta decisão, por sua vez teve o apoio do mercado financeiro, outorgou no início de maio, isto é, em plena fase crítica da pandemia na Espanha, o financiamento necessário para poder abordá-lo.
9.- No futuro, quais são as novas finalidades em que podem ser aplicados os serviços de satélite? Que serviços considera que serão os mais requeridos?
Mesmo a partir da certeza de que a conectividade de banda larga via satélite, o “backhaul” celular e as aplicações em ambientes de mobilidade serão os novos motores do setor, como já assinalei ao longo desta entrevista, no horizonte também enxergamos as enormes possibilidades que representa para o mundo dos satélites todo o ecossistema que se encontra em desenvolvimento ao redor do mundo IoT (“Internet of Things” ou Internet das Coisas), bem como o papel relevante que o satélite deve desempenhar no 5G.
Este novo padrão representa uma mudança de conceito respeito das gerações anteriores: se elas focavam na conexão de pessoas, o 5G busca conectar em todo momento objetos e pessoas estejam onde estiverem, tanto com outras pessoas quanto com outros objetos. Para alcançar essa mudança de paradigma e evitar a desaceleração da implementação ou a ineficiência, será obrigatório recorrer a um uso simultâneo de diversas tecnologias fixas, terrestres e satelitais que aproveite as funcionalidades mais adequadas de cada cenário.
Muitas dessas aplicações IoT, que requerem de largura de banda muito pequena, podem encontrar um grande aliado nas constelações de nano satélites e, do mesmo modo, podem combinar sua coleta em massa de dados com tudo o que provém dos satélites de observação da Terra para oferecer uma análise muito mais completa. Nessa combinação de dados e em sua posterior análise, acreditamos que subjaz um nicho de grande potencial para soluções de valor agregado. Em definitiva, acreditamos que o futuro das telecomunicações acontece por um uso combinado de infraestruturas terrestres e satelitais.
Ao mesmo tempo, também consideramos firmemente que o destino do satélite está no desempenho de um papel relevante na colaboração público-privada. Isto será no momento de garantir a transformação digital de nosso tecido empresarial e, em geral, de nossa sociedade, garantindo os serviços básicos de conectividade para 100% da população segundo os padrões de qualidade determinados pelas autoridades europeias, mas também poderá ter esse papel chave no desenvolvimento de um sistema de conectividade seguro para administrações e instituições, cada vez mais demandado em Bruxelas.
10.- Se tivesse de escolher somente 4 palavras para definir a Hispasat, quais selecionaria?
Em primeiro lugar, eu diria que a HISPASAT é “compromisso”. Compromisso com nossos acionistas, a quem devemos oferecer rentabilidade, crescimento e criação de valor; com nossos funcionários, para responder oferecendo um futuro cheio de oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional e, finalmente, com a sociedade, a quem devemos nossa razão de existir.
Outra palavra que encaixa adequadamente em nossa definição é “exigência”. Nossa exigência a cada dia para melhorar nossos padrões de qualidade, bem como o desejo de atingir à excelência em tudo o que fazemos.
Em terceiro lugar, acrescentaria a “dedicação” com que todos e cada um dos que fazemos parte da HISPASAT, desempenhamos nosso trabalho diário de maneira entusiasta a cada dia, em jornadas às vezes intermináveis, mas sempre enriquecedoras.
Para finalizar, e como resumo das anteriores, a HISPASAT é a “paixão” que se percebe “em” e se transmite “desde” todos e cada um dos 200 profissionais que todo dia dedicam o melhor, para tornar sua organização uma empresa melhor, mais forte e coesa, com espírito de autêntica equipe e que, além disso, presumem de maneira legítima de um altíssimo orgulho de pertença à companhia a qual dedicam sua vida.
11.- O setor segurador foi um participante essencial no desenvolvimento aeroespacial, e mais concretamente a MAPFRE, uma empresa pioneira no seguro deste setor na Espanha e muito vinculada à história da Hispasat. Pode descrever brevemente como avançou esse vínculo entre ambas as corporações e como visualiza sua evolução?
O vínculo entre a MAPFRE e a HISPASAT se remonta à própria gênese do projeto HISPASAT.
Entre os diferentes grupos de trabalho que foram organizados para implementar um projeto pioneiro na Espanha no final dos anos 80, conformou-se o grupo de seguros para, a partir da própria experiência que os acionistas mais relevantes da companhia podiam oferecer neste campo, apoiar a companhia no desenho e na definição dos riscos associados a um programa de satélites e suas alternativas de seguro. Não se contava, naquele momento, com referências assimiláveis que pudessem servir de modelo de trabalho, mesmo que aproximado.
Daquele grupo de trabalho, que contou com a participação de profissionais do tamanho de Paola Serrano ou Ignacio Martínez de Baroja, faziam parte Postal Seguros Generales, em representação do acionista Caja Postal, a Gerência de Riscos e Seguros de Telefónica, em representação do acionista Telefónica, e MUSINI, posteriormente adquirido pela MAPFRE, em representação do INI, também acionista fundacional da HISPASAT.
No final, as relações profissionais entre as companhias acabaram construindo as pessoas que as representam. É nesse sentido que gostaria de aproveitar a oportunidade que me oferece esta pergunta para salientar e reconhecer a grande sintonia pessoal e profissional com as pessoas que na MAPFRE sempre estiveram orientadas a dar o melhor, para fortalecer a cada dia esse vínculo que une a HISPASAT e a MAPFRE desde suas origens. Não posso deixar de mencionar e agradecer especial e pessoalmente a Alfredo Arán, a já mencionada Paola Serrano e a Cristina Quintero pelo apoio, dedicação e entrega à HISPASAT nos programas de seguro de todos e cada um dos satélites que colocamos em órbita e também no gerenciamento de sinistros, alguns deles muito complexos, e em que sempre a MAPFRE esteve ao lado da HISPASAT desde uma posição construtiva, para alcançar acordos razoáveis para todos.
Acredito com sinceridade que, com este histórico, as bases para abordar novos projetos futuros, nos quais trabalhamos continuamente, são realmente sólidas como para antecipar que a vinculação e a colaboração entre a MAPFRE e a HISPASAT continuará cada dia mais forte e estreita. e tenho certeza de que ainda por muitos outros anos.
Juan Jesús García Chaparro
Diretor econômico-financeiro de Hispasat