Com o desencadeamento da crise sanitária e social originada pela COVID-19, a indústria metalúrgica e metalmecânica do Chile se encontrava imersa em uma necessária transição para a Indústria 4.0. Embora o impacto da pandemia tenha alterado a atividade e as perspectivas do setor, a tarefa de encorajar a urgente e necessária modernização da atividade industrial continua como prioridade para o grêmio. Dante Arrigoni, presidente da Associação de Indústrias Metalúrgicas e Metalmecânicas da região, fala sobre os avanços alcançados e os desafios enfrentados neste novo exercício.
. ASIMET se apresenta como um lugar de encontro empresarial para o setor metalúrgico e metalmecânico. Como trabalham na associação para impulsionar a indústria?
ASIMET é um grêmio que em 2020 celebrou 82 anos de trajetória e sua origem se remonta a um momento histórico do país, em que a iniciativa privada era questionada. Nessas oito décadas, o papel do grêmio rumou para a profissionalização e adequação dos novos desafios enfrentados pela indústria, mas seu objetivo foi sempre oferecer suporte à gestão diária das empresas, a fim de potencializar suas fortalezas e incrementar a competitividade.
No nível interno, contamos com corporações, comitês e círculos específicos para cada área da indústria metalúrgica e metalmecânica, que oferecem assessoramento e informações relevantes para os sócios em forma contínua.
Além disso, nossa associação desempenha um papel público de representação das empresas junto às autoridades, que são consultadas frequência, de acordo com as normas estabelecidas pela lei, para a apresentação de preocupações ou sugestões relacionadas a temas que envolvem nosso setor.
. A indústria do metal representa uma das indústrias básicas mais importantes nos países industrializados. Seu nível de maturidade costuma ser uma prova do desenvolvimento industrial do país. Na atualidade, que peso tem este setor na economia chilena?
A indústria do metal, e a indústria manufatureira em geral, foi o motor para o desenvolvimento dos países no decorrer da história. No Chile, isto não é exceção. Porém, infelizmente nos últimos 30 anos a indústria perdeu peso perante outras atividades econômicas. Assim, com 15% de representação no PIB nacional, a indústria manufatureira passou a contar hoje com menos de 10%. E no caso específico da metalúrgica e metalmecânica, atualmente estamos em 2,1%.
- A indústria metalúrgica adotou medidas para continuar as operações durante a crise. Que boas práticas de gestão você pode salientar?
Em sua grande maioria, as companhias do setor metalúrgico e metalmecânico nacional estiveram operacionais durante todo o período da pandemia. Muitas de nossas empresas desempenham um papel chave no funcionamento do país por serem consideradas provedores estratégicos de serviços essenciais. Isto, juntamente com a preocupação dos empresários pela segurança dos funcionários, permitiu a este elo da economia do país continuar funcionando durante todo esse período.
Neste aspecto, é importante assinalar o compromisso tanto de trabalhadores e empresários pela manutenção do funcionamento das empresas, em um contexto de segurança e proteção dos trabalhadores.
- Infelizmente, o setor metalúrgico e metalmecânico, como muitos outros, sofre o impacto da COVID-19. Concretamente, como foram afetados pela pandemia?
Efetivamente, nossa estimação de crescimento para 2020 é negativa, com queda projetada entre 6% e 8%. Durante os episódios de quarentenas, nossas companhias continuaram ativas por serem consideradas provedores de empresas essenciais, mas com um claro e muito menor nível de produção. E, certamente, com estritos protocolos de prevenção que foram bem-sucedidos.
Felizmente, no terceiro trimestre do ano, o setor começou a apresentar sinais de recuperação e as expectativas de nossos sócios melhoraram de maneira substancial. Tanto é assim que, na última pesquisa realizada, nossas empresas projetaram um crescimento de 8% para 2021.
- Na sua perspectiva, que peso tem a gestão do risco nas corporações do setor?
A partir do momento em que os primeiros efeitos da pandemia começaram a se tornar evidentes, os empresários do setor demonstraram preocupação por seus empregados e pela continuidade do funcionamento de suas empresas. Para isso, como grêmio, conseguimos uma aproximação com cada um deles, buscando oferecer o suporte necessário para alcançar a continuidade no funcionamento das empresas do setor. Para isso, foram organizadas diferentes palestras em diversos âmbitos, como segurança, saúde, psicológico e aspectos de apoio econômico e empresarial.
- Além de impactar nas operações das grandes corporações da indústria, afetou as licitações previstas para o setor no Chile?
Não resta a menor dúvida de que as empresas foram obrigadas a enfrentar grandes desafios para manter operacionais suas companhias. Todos os indicadores marcam uma menor atividade da economia nacional e mundial. Assim, observou-se menor demanda por produtos do setor metalúrgico e metalmecânico por causa da paralisação de setores econômicos, como o da construção e mineração, entre outros, e que são grandes demandantes de produtos e serviços do setor. A demora e o adiamento de licitações e projetos de investimento afetaram de maneira clara o desempenho do setor M-M, que projeta menor atividade no intervalo de 8% para este ano.
- Neste cenário, a reativação da indústria é chave. ASIMET apresentou um plano para isso. Pode indicar brevemente as linhas principais que fundamentam o plano e os passos estão sendo realizados?
ASIMET, em conjunto com Econsult, conceituada empresa de consultoria econômica, elaborou um Plano de Reativação Industrial, com o objetivo de “acionar os motores” e recuperar o crescimento deste setor. Entre outras externalidades positivas, este plano foi desenhado para gerar cerca de 350 mil empregos na indústria.
Outro mérito desta iniciativa é ser uma estratégia pensada a curto prazo, com propostas de fácil execução e que podem começar imediatamente, porque não requerem projetos de lei nem maiores tramitações legislativas nem burocráticas, que em geral sempre desaceleram este tipo de planos.
Em grandes linhas, o plano é sustentado em 5 pilares:
- Redefinição do limite de categorização das PME, para ampliar o número de empresas que recebem acesso a programas e instrumentos de apoio. Concretamente, a proposta é dobrar os limites de vendas anuais, questão que geraria que 55% de empregados e 20% de vendas se encontrem dentro da categoria PME no Chile.
- Impulsionar a infraestrutura pública e privada em três frentes: Fundo de Infraestrutura, Direção Geral de Concessões do Ministério de Obras Públicas e Escritório de Gestão de Projetos Sustentáveis (GPS) do Ministério da Economia.
- Renovação tecnológica que possibilite adotar as práticas da Indústria 4.0.
- Incentivos à recontratação de trabalhadores até o fim de 2021 para enfrentar 25% de desemprego.
- Determinação de uma autoridade de governo focada na indústria. Este é um grande desejo da ASIMET, pois um setor tão relevante para a economia requer de um porta-voz válido e específico para nosso setor. Então, propomos a criação de uma Subsecretaria da Indústria, dependente do Ministério da Economia.
Este plano foi encaminhado às autoridades de Governo para estudo e atualmente se encontra em análise.
. Além dos desafios que na atualidade apresenta a crise derivada da pandemia, com que outras situações resulta essencial lidar para uma adequada evolução da indústria?
Muito antes da pandemia, na ASIMET temos trabalhado na tarefa de encorajar a urgente e necessária modernização da atividade manufatureira, devido à incursão a grandes passos da denominada Indústria 4.0. E, até hoje, ela é nossa prioridade de médio e longo prazo.
Para isso, torna-se imprescindível, em primeiro lugar, que as empresas iniciem um processo de digitalização. E nesse ponto, no Chile temos uma dívida. Na atualidade, só a terceira parte das indústrias do país avançou em direção à transformação digital. Isso é uma preocupação e é um fator que nos deixa em desvantagem para caminhar na direção dessa mudança. Deste modo, o papel do Estado é chave e existe a necessidade de políticas públicas encarregadas de lidar com esta realidade, que ofereçam ferramentas de apoio às empresas, principalmente às PME, em seus processos de transformação digital.
A pandemia não fará outra coisa que potencializar a incursão da Quarta Revolução Industrial. Se antes do coronavírus acreditávamos que o Chile devia entrar no carro da Indústria 4.0, que está transformando de maneira radical os sistemas produtivos a nível global, hoje ninguém pode duvidar da urgência de acelerar o passo para esse caminho.
- Que papel concedem na ASIMET à inovação e à adoção de novas tecnologias na indústria?
Consideramos que ambos os aspectos são chave e, como grêmio, continuamente procuramos alianças e estratégias que contribuam com nossos sócios na busca por soluções de vanguarda para seus negócios. Por exemplo, desejo salientar especialmente um recente convênio assinado com o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimentos Tecnológicos LEITAT da Espanha, focado nas tecnologias de Manufatura Aditiva, cujo objetivo é o desenvolvimento e a validação de soluções que incrementem a competitividade nas empresas. A ideia central dessa aliança, que conta com o apoio de Corfo, será a detecção de oportunidades nas empresas, para posteriormente construir em conjunto soluções através da manufatura aditiva com impacto no negócio. O objetivo é que as capacidades do consórcio sejam aproveitadas pela maior quantidade possível de nossas empresas.
Acreditamos, de maneira firme, que a partir do desenvolvimento tecnológico é que conseguiremos mudar a matriz produtiva do Chile mediante a inovação.
- E, para finalizar, na sua opinião e neste novo mundo gerado pela crise sanitária. Que tendências podem ajudar a impulsionar a evolução da indústria metalúrgica?
Como grêmio estamos muito preocupados pelo desenvolvimento da indústria manufatureira nacional. Acreditamos, e temos certeza, de que a indústria é o motor para o desenvolvimento de um país.
Na ASIMET nos preocupa o desafio proposto pela Quarta Revolução Industrial que, de acordo com estudos de nosso grêmio, apenas nos deixa em um nível 2.4. Sem dúvida, devemos impulsionar o desenvolvimento de nossas empresas para se tornarem mais competitivas em uma economia globalizada e com grande abertura comercial, como a experimentada pelo Chile nos últimos anos. Certamente, os recentes acontecimentos reformularam nossa forma de trabalhar e nos fez procurar alternativas para alcançar a continuidade da operação. Devemos aproveitar essa instância para atingir a competitividade das empresas neste novo cenário. Para isso, é claro, são necessárias políticas públicas, em que as políticas de Estado procurem condições para que as empresas nacionais possam concorrer em iguais condições nos mercados internacionais.
Dante Arrigoni Cammas é engenheiro civil pela Universidade do Chile, com diplomados em Governo Corporativo pela Universidade Católica, Gestão de Negócios pela Universidade Adolfo Ibáñez e em Direção de Empresas Familiares pelo ESE Business School da Universidade dos Andes.
Foi gerente comercial e gerente geral da Arrigoni Metalúrgica S.A., onde realizou a transição da empresa familiar e a profissionalização nas diferentes empresas do grupo. No âmbito gremial, ele foi vice-presidente da Associação de Provedores Industriais da Mineração, APRIMIN, além de diretor do Instituto Chileno do Aço, ICHA, entidade em que também desempenhou o cargo de vice-presidente. Anteriormente, ele foi diretor da Câmara de Comércio Italiana. Em julho de 2018, ele foi eleito presidente da ASIMET e reeleito após dois anos de mandato.