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Adrian Beer, CEO e fundador do GrupoBeer

“O grande desafio consiste em conseguir que o Comitê de Crise tome decisões ágeis em situações nas quais a qualidade e quantidade de informação disponível é, muitas vezes, insuficiente.”

O GrupoBeer é um conjunto de empresas que proporciona soluções integrais tanto às indústrias como ao setor segurador mediante a prestação de serviços especializados na recuperação integral de bens após um sinistro. O Beer Group colaborou em diversas ocasiões na descontaminação desses cenários com a MAPFRE Global Risks.

Adrian Beer, responsável por seu nascimento e desenvolvimento, fala-nos do seu trabalho e desenha o contexto atual nesta matéria.

1.       Qual é o âmbito de especialização do GrupoBeer e em que regiões desenvolve sua atividade?

O GrupoBeer é especializado na Recuperação e Descontaminação Integral de Bens após um sinistro (incêndio, catástrofe natural, explosão, etc.). Estas ações desenvolvem-se no âmbito dos Planos de Continuidade de Negócio que estabelecem grupos industriais, comerciais e do setor público para enfrentar e superar com sucesso eventuais situações de contingência. Ao nível de mercados, levamos quase 30 anos desenvolvendo nossa atividade na Espanha, Portugal e países da América Latina, além disso em outras regiões do mundo onde haja uma presença relevante de grupos industriais, através de nossa integração em Belfor, presente em mais de 30 países mediante seus 325 escritórios.

2.       Que contribuição supõe uma entidade como a sua para a correta gestão dos grandes riscos em colaboração com as seguradoras e outras entidades envolvidas?

Em primeiro lugar, a identificação rigorosa e objetiva dos riscos que são gerados após a ocorrência de um sinistro, tanto a nível técnico como do ponto de vista de Health & Safety para as pessoas. Uma vez identificados esses riscos, o objetivo é executar soluções que permitam eliminá-los recuperando o ambiente de trabalho e a vida útil dos ativos industriais que tenham sido afetados pelo sinistro ou a catástrofe.

Essas soluções permitem uma redução significativa dos prazos de recuperação da atividade normal da empresa e, ao mesmo tempo, supõem uma importante poupança em custos com respeito à alternativa de substituições completas de equipamentos com danos parciais.

Adicionalmente, proporcionamos também nossa vasta experiência na gestão de crises repentinas, guiando e assessorando os diferentes responsáveis envolvidos para otimizar os processos de decisão que são requeridos em um contexto de enorme pressão e que exigem agir em modo de emergência.

3.       Que fases constituem sua gestão do sinistro, e que atores participam na avaliação e planejamento de suas atuações?

O processo operacional inicia-se com a recepção do aviso do incidente e o planejamento da visita de inspeção na instalação sinistrada. Uma vez realizadas a inspeção e a avaliação em detalhe dos bens afetados, são desenvolvidas as medidas urgentes de contenção de danos para abrandar a progressão dos mesmos.

A seguir, desenvolve-se uma abordagem técnica de recuperação integral, tendo em conta os requisitos específicos e prioridades da empresa afetada.

Uma vez aprovada esta abordagem pelas diferentes partes envolvidas (principalmente o segurado e a seguradora representada pela peritagem) inicia-se a fase de execução dos trabalhos de descontaminação e recuperação propostos nos diferentes capítulos que tenham sido considerados: edifício e instalações, linhas de processo e maquinaria, equipamento eletrônico, etc.

Após os controles de qualidade, a Fase Final de execução consiste em realizar os ajustes e a execução dos equipamentos de produção, que normalmente se realiza com a colaboração dos serviços técnicos habituais.

Em muitos dos projetos, somos convidados a fazer parte do Comitê de Crise, que é ativado imediatamente após um incidente grave, no qual contribuímos com nosso know-how e experiência, estreitando assim a curva de aprendizado pela qual o cliente passa nessas situações.

4.       Que sinistros são os mais complexos de tratar e quais são as dificuldades que são enfrentadas no desenvolvimento de sua atividade?

A variedade de situações que enfrentamos é muito heterogênea, apesar de que poderíamos destacar aquelas intervenções nas quais o fator de saúde e higiene é mais relevante porque às situações caóticas e de desorganização habitual acrescentam-se complexidades tais como a presença de amianto ou outros contaminadores nas instalações ou agentes patogênicos que podem ter incidência ao retomar a produção, especialmente na indústria farmacêutica e de alimentação.

Outro desafio que surge em muitas ocasiões é a necessidade de projetar uma ação que permita que a retomada da produção e o gerenciamento de pedidos comprometidos com o controle de riscos técnicos sejam compatíveis. Isso implica realizar intervenções intermitentes que devem ser retardadas ao longo do tempo, tendo de agir nas paradas de produção previstas na programação industrial do segurado para fazer uma operação mais exaustiva e definitiva.

Em casos de desastres naturais, por exemplo em terremotos ou furacões, também é necessário considerar o impacto a nível humano e social que se produz no ambiente da catástrofe e em como afeta os trabalhadores e as famílias das empresas. As situações que encontramos supõem muitas vezes um verdadeiro desafio a nível logístico para fazer chegar os recursos técnicos e humanos necessários para o desenvolvimento de nosso trabalho.

5.       Que importância tem a celeridade na hora de pôr em funcionamento as primeiras medidas após um grande sinistro?

A rapidez com que se intervém é fundamental já que uma boa gestão dos primeiros momentos após a ocorrência do sinistro pode limitar significativamente a progressão dos danos e também maximizar as possibilidades de recuperação dos diferentes bens afetados, reduzindo prazos ao longo de todo o processo.

O grande desafio consiste em conseguir que o Comitê de Crise tome decisões ágeis em situações nas quais a qualidade e quantidade de informação disponível é, muitas vezes, insuficiente. Neste setor, detectamos grandes diferenças entre os mercados: quanto maior a tradição e o conhecimento desse tipo de serviço, mais fácil é integrar as tarefas profissionais de resgate e recuperação das prioridades que fazem parte das primeiras fases da ação.

Neste sentido, existem muitos países onde a terceirização e profissionalização das medidas urgentes a tomar, imediatamente após um sinistro, são realizada de forma automática e são assumidas dentro da mecânica habitual da gestão pós-sinistro.

6.       Como empreendem o plano para reduzir o alcance dos danos materiais e minimizar os riscos de danos diferidos?

Há toda uma série de medidas de contingência que permitem delimitar zonas contaminadas de outras potencialmente expostas, aplicar medidas e técnicas específicas de redução do dano e implementar medidas de controle de parâmetros do entorno (umidade, temperatura,…) que abrandam os processos de oxidação e corrosão, entre outros, que se iniciam nos equipamentos técnicos após, por exemplo, um incêndio.

Para controlar os riscos de danos diferidos é muito importante não se limitar a tratamentos superficiais do impacto visíveis a nível externo, mas ser exaustivo nos diagnósticos que são realizados e executar as desmontagens necessárias para comprovar e tratar todos os espaços e componentes que tenham sido afetados pelo sinistro (gases de combustão, água em caso de inundação, etc.).

Em geral, as companhias de seguros de risco industrial mais inovadoras são conscientes das potenciais liabilities que podem ser geradas após um sinistro quando não são utilizadas soluções especializadas, tais como danos técnicos diferidos em maquinaria, situações de risco para a saúde das pessoas, problemas de qualidade do produto terminado, etc.

“Para controlar os riscos de danos diferidos é muito importante não se limitar a tratamentos superficiais do impacto visíveis a nível externo, mas ser exaustivo nos diagnósticos que são realizados.”

7.       Como o seu trabalho favorece a prevenção apropriada pelos afetados? Com base em sua experiência, que sugestões daria para potencializar a prevenção e minimizar os danos?

Nosso trabalho faz parte das tarefas próprias do plano de continuidade de negócio (BCM). Neste sentido, é habitual que façamos – principalmente para grupos com uma forte cultura de gerência de riscos – inspeções prévias e tomadas de contato com os agentes que serão nomeados na ativação potencial do Comitê de Crise.

Em um nível mais típico da operação de prevenção clássica, além de todas as medidas necessárias em cada tipo de atividade em termos de sistemas de detecção e extinção de incêndios, setorização de zonas e procedimentos para o controle de atividades com risco potencial próprio ou de terceiros, é importante aplicar uma manutenção preventiva adequada que limite o acúmulo de sujeira e detritos em processos que são perigosos quando concentrados em uma planta de produção.

“É importante identificar as prioridades do cliente e adaptar-se aos seus requisitos de qualidade, segurança e meio ambiente.”

8. Que condições devem ser dadas para que se possa empreender um trabalho de recuperação segundo o tipo de sinistro?

Em princípio, este tipo de atividade tem cabimento em quase qualquer situação de danos provocados por incêndio, danos por água ou fuga de produtos tóxicos. E, com mais razão, onde exista uma forte preocupação pelos efeitos que gere a paralisação da atividade. Somente os aspectos de Health and Safety do pessoal que trabalha nos recintos afetados justifica uma avaliação rigorosa dos possíveis contaminadores que possam ter afetado as diferentes áreas. Por isso, em muitos mercados este tipo de serviços é uma prática comum e generalizada.

Do ponto de vista técnico, o perfil tipo de sinistro é aquele que gerou não só danos de tipo irreversível – que requerem a substituição completa dos elementos afetados -, mas também danos reversíveis. Isto é, que mediante trabalhos especializados se possa recuperar o estado prévio desses bens.

“Estas soluções permitem uma redução significativa dos prazos de recuperação da atividade normal da empresa e, ao mesmo tempo, supõem uma importante poupança em custos com respeito à alternativa de substituições completas de equipamentos com danos parciais.”

Estas últimas atuações têm de ser viáveis não somente do ponto de vista técnico, mas também do econômico, considerando os custos e prazos das diferentes opções propostas.

Por outro lado, do ponto de vista dos processos decisórios, é importante que os interesses das diferentes partes envolvidas possam ser rapidamente alinhados e que ações sejam tomadas o mais rápido possível para lidar efetivamente com os danos do sinistro.

9.       Quais aspectos devem ser considerados para facilitar a retomada da atividade na área afetada?

É importante identificar as prioridades do cliente e adaptar-se aos seus requisitos de qualidade, segurança e meio ambiente. Uma vez executados os trabalhos de descontaminação, pode ser comprovada, mediante procedimentos objetivos, a efetividade dos serviços desenvolvidos, garantindo que as instalações e os equipamentos possam ser reutilizados sem risco para os bens nem para as pessoas ou usuários da instalação. Também é importante a coordenação eficaz com atividades de terceiros que eventualmente tenham de intervir na implementação final dos processos produtivos (serviços técnicos habituais).

10.       Estamos imersos em uma grande transformação digital que está dando lugar a uma indústria 4.0, como influi esta revolução na gestão dos sinistros?

Quanto ao impacto na indústria, a automatização e a digitalização dos processos implicarão uma complexidade técnica e uma concentração de valor superior dos ativos produtivos instalados. Qualquer incidente relevante que se produza em algum dos elos das cadeias de valor de diferentes setores será mais crítico, devido à maior vulnerabilidade e ausência de processos redundantes.

No que se refere à própria prestação de nossos serviços, estes desenvolvimentos terão um efeito sobre a forma em que se recolhem e apresentam os dados perante a integração nos planos de continuidade de negócio ou nas avaliações pós-sinistro. Quanto ao próprio trabalho de descontaminação, espera-se que o efeito seja mais limitado por tratar-se de intervenções mais customizadas e dificilmente replicáveis. No entanto, será necessário um nível técnico maior dos recursos humanos e materiais para poder empreender trabalhos em tecnologias mais complexas e sofisticadas com certa autonomia.

Adrian Beer, CEO e fundador do GrupoBeer

A trajetória profissional de Adrian Beer começa em dois grandes companhias: IBM (Nova Iorque) e Price Waterhouse (Londres). Desde 1991, ele é responsável pela criação e o desenvolvimento do GrupoBeer, um grupo de empresas que atende clientes principalmente na Espanha, Portugal e América Latina.

No plano acadêmico, é Doutor pela Universidade de Sankt Gallen, bacharel em Administração de Empresas pelo ICADE (Madri) e OPM da Escola de Negócios de Harvard, em Boston. Ainda, atuou como professor convidado em várias instituições acadêmicas e é palestrante habitual em fóruns nacionais e internacionais.

Também é membro ativo de vários comitês assessores e diretorias executivas na Ásia, Europa e nos EUA: Harvard Business School Alumni Board (Boston); European Leadership Council da Harvard Business School (Paris); Associação Econômica Hispano-Suíça (Madri); Organização de Suíços no estrangeiro (Berna); e diversas start-ups e ONG, entre outros.

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